7 de maio de 2013

Linfedema

Por Priscila Jaruso Monteiro
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
O linfedema é resultado da insuficiência no transporte linfático e sua principal manifestação clínica constitui o aumento significativo de um ou mais segmentos corporais. É um problema crônico, que culmina com dermatofibrose. Pode ser classificado segundo sua etiologia (primário ou secundário) e idade de aparecimento da manifestação (estágios I a III). O diagnóstico é basicamente clínico, sendo os exames subsidiários utilizados para afastar outras etiologias.
Palavras-chave: Linfedema. Edema. Sistema linfático.

O linfedema, ou edema linfático, é o aumento de volume de segmentos corpóreos causado por distúrbios do sistema linfático. Trata-se de um um problema crônico caracterizado pelo acúmulo de líquidos e proteínas no espaço intersticial, decorrente de insuficiência da drenagem linfática local. Geralmente, acomete as extremidades, principalmente os membros inferiores, causando alterações da funcionalidade e estética do local afetado (Thomaz et al., 1997).
Estima-se que existam 450 milhões de pessoas com distúrbios linfáticos, ou seja, 15% da população mundial. No Brasil, a incidência e distribuição do linfedema é pouco conhecida e considera-se que sua ocorrência é largamente subestimada na prática clínica (CARVALHO et al., 2010).
A fisiopatologia do linfedema envolve as definições de carga e débito linfático. No estado de equilíbrio, a carga linfática (quantidade de líquidos e substâncias de transporte linfático presente nos tecidos) é igual ao débito linfático (volume de linfa transportado por unidade de tempo). O linfedema ocorre quando a capacidade de transporte do sistema linfático estiver reduzida por obstrução, alterações congênitas ou adquiridas dos vasos (Andrade, 2002).
Inicialmente, o edema é mole, discreto e depressível à compressão, entretanto, com a evolução da doença, torna-se duro, não depressível e, portanto, sem sinal de cacifo à ectoscopia. Contudo, a cronicidade da estase linfática produz uma modificação histopatológica no tecido celular subcutâneo: a dermatofibrose. Nesta, os fibroblastos substituem progressivamente os tecidos nobres, levando ao acúmulo de colágeno do tipo irreversível. Deste modo, pode-se observar fibrose do tecido celular subcutâneo, espessamento com "paquidermização" da pele e alterações na morfologia dos vasos linfáticos (Guedes, 2002). Cronicamente, o aumento do volume do membro pode acarretar deformidades significantes, invalidez e aspecto elefantiásico; além disso, o linfedema pode se malignizar.
De acordo com a classificação de Kinmonth (Roesler et. al., 1999), o edema linfático pode ser classificado em primário e secundário. O primeiro ocorre por alterações congênitas, tais como: hipoplasia, hiperplasia e agenesia dos vasos linfáticos. No linfedema secundário, há alterações adquiridas do sistema linfático devido a infecções, radioterapia, traumas, dentre outras. (Karfejian-HADDAG et. al., 2005).
Os linfedemas primários são subdivididos, de acordo com a idade de aparecimento da manifestação clínica de aumento de volume do (s) membro (s) acometido (s), em linfedemas primários congênitos e tardios. Os congênitos são aqueles que se manifestam até o 2º ano de vida; os primários precoces do 2º ao 35º anos de vida; e os primários tardios após os 35 anos de idade.
Quanto à forma clínica, através da classificação de Mowlem, subdivide-se o linfedema em estágios, de modo que o estágio 0 (zero) define os casos assintomáticos, ou seja, quando ainda não há edema visível (pré-clínico); os demais estágios são clínicos: estágio I para linfedemas reversíveis com elevação do membro e repouso no leito durante 24-48 horas, e edema depressível com digitopressão, ou seja, cacifo; estágio II, para linfedemas irreversíveis mesmo com o repouso prolongado, além de moderada a grave fibrose e, consequentemente, edema não depressível com a pressão; e estágio III, para os quadros elefantiásicos (Guedes, 2002).
O diagnóstico do linfedema pode ser formulado com base na anamnese e no exame físico. Entretanto, no estágio inicial da doença e nos casos de edema brando e intermitente, é necessário considerar o diagnóstico diferencial.
Dentre os critérios objetivos não invasivos de avaliação do linfedema, estão a perimetria, medida de circunferência em pontos fixos do membro a partir de estruturas ósseas palpáveis, e a volumetria, considerada padrão-ouro e obtida pelo deslocamento de água a partir da imersão do membro em recipiente específico (Srur, 2005). Atualmente, o exame de escolha para diagnóstico precoce é a linfocintilografia, que permite avaliação anatômica e funcional.
A abordagem do linfedema requer uma equipe interdisciplinar, incluindo os profissionais médico angiologista, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta e psicólogo. 
Veja neste blog: "Avaliação Semiológica do Edema", disponível no link abaixo.
http://semiologiamedica.blogspot.com.br/2008/10/avaliao-semiolgica-do-edema.html

Referências 
Andrade, M. F. Linfedema: epidemiologia, classificação e fisiopatologia. In: Maffei FHA, Lastoria S, Yoshida WB, Rollo HA, editores. Doenças vasculares periféricas. 3ª ed. São Paulo: Medsi; 2002.p.1641-6.
CARVALHO, A. T. Y.; PEREIRA, M. C. S. B; SANTOS, A. J. et al. Impacto dos marcadores socioeconômicos na gravidade do linfedema das extremidades inferiores. J. vasc. bras. 10 (4): 298-301, 2011. 
Guedes, H.J. Linfedemas: Classificação, Etiologia, Quadro Clínico e Tratamento não Cirúrgico. In: Brito CJ. Cirurgia Vascular. 1ª ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2002.p.1228-35.
Karfejian-Haddad, A. P.; Sanjar, F. A.; Hiratsuka, J. et al. Análise dos pacientes portadores de linfedema em serviço público. J Vasc Br. 4(1):55-8, 2005.
Roesler, R.; Araujo, L.R.; Rippel, R. et al. Doença de Meige (linfedema precoce) – relato de caso e revisão da literatura. Rev. Soc. Bras. Cir. Plást. 1999;14:69-78.
Srur, A.E. Linfedema: aspectos clínicos, diagnósticos y terapêuticos. Bol Hosp San Juan de Dios 52(1):43-51, 2005.
Thomaz, J. B.; Herdey, A. D. C.; VALENTE, F. M. Fundamentos da Cirurgia Vascular e Angiologia. 1ª ed. São Paulo: Fundo Editorial BYK; 1997. p.581-597.

Fonte da imagem: Mayo Fundation for Medical Education and Research. Disponível em: 
http://www.mayoclinic.com/health/medical/IM03018