Por Álvaro Luiz Vieira Lubambo de Brito
Médico Recém-Graduado pela UFPB
Resumo
As síndromes de dor
orofacial são condições dolorosas que envolvem a cabeça, a face, o pescoço e as estruturas da cavidade oral, e muitas vezes representam um dilema para os médicos. "Dor orofacial crônica" é um
termo genérico usado para descrever síndromes dolorosas regionais com um padrão
crônico e incessante, que exigem abordagens de
diagnóstico adaptados individualmente. São classificadas em dores músculo-esqueléticas, neuropática e neurovascular. Existem mais de 300 causas de dor nesse segmento, e, muitas vezes, há mais de um diagnóstico no mesmo doente. A dor dentária e a dor musculoesquelética mastigatória geralmente sobrepõem-se a outros diagnósticos, como dores de caráter neuropático (neuralgia trigeminal, síndrome da ardência bucal, odontalgia atípica, dor facial atípica etc.) e cefaleias primárias.
Palavras-Chave: Dor. Dor Facial. Sinais e Sintomas.
Dor
orofacial crônica é um termo genérico usado para descrever síndromes dolorosas
regionais com um padrão crônico, incessante. Este é um termo de conveniência, similar a dores de cabeça
crônica diária, mas é de importância clínica questionável: síndromes que
compõem a categoria de dor orofacial crônica exigem abordagens de diagnóstico
adaptados individualmente (BENOLIEL; SHARAV, 2010). Muitas vezes, estas
síndromes
de dor orofacial representam um dilema para os médicos.
Este tipo de dor compreende um grupo heterogêneo de doenças que causam dor contínua na
região da cabeça e face. Embora existam muitas taxonomias propostas, um sistema
divide estas dores em dores músculo-esqueléticas, neuropática e neurovascular. Dores psicogênicas compreendem ainda uma outra categoria, mas são
estudadas à parte, associadas com esquizofrenia ou transtornos de conversão
(GANZBERG, 2010).
Definida como uma condição dolorosa que
envolve a cabeça, a face, o pescoço e as estruturas da cavidade oral, a dor
orofacial tem se mostrado comum na população brasileira, mas há uma carência de
estudos epidemiológicos no país que
tenham investigado a prevalência e a incidência da dor orofacial. Os dados
norte-americanos indicam que a prevalência é de 22%.
Há grande heterogeneidade nas síndromes
de dor orofacial, em parte, porque é rica inervação presente na cabeça, face e pescoço,
tornando o estudo da dor orofacial geralmente complexo. Muitas vezes, é difícil
chegar ao diagnóstico preciso (CONTI et al., 2003; EPKER et al., 1999; FERREIRA et al.,
2009). O diagnóstico depende, além do exame clínico, de exames complementares.
Entre suas causas, as mais comuns são
as dento-alveolares, seguidas das disfunções temporomandibulares. Contudo,
existem mais de 300 causas de dor nesse segmento, e, muitas vezes, há mais de
um diagnóstico no mesmo doente. A dor dentária e a dor
musculoesquelética mastigatória geralmente sobrepõem-se a outros diagnósticos,
como dores de caráter neuropático (neuralgia trigeminal, síndrome da ardência
bucal, odontalgia atípica, dor facial atípica etc.), cefaleias primárias
(SIQUEIRA, 2011).
A sensação de dor que ocorre em todas
estruturas intra-orais ou extra-orais são mediadas pelo Sistema Trigeminal (ST)
que leva os sinais dolorosos ao Sistema Nervoso Central (SNC). O ST é uma
complexa rede de fibras nervosas, interneurônios e conexões sinápticas que
processa concomitantemente informações das três divisões do nervo trigêmeo (CONTI et al., 2003).
A dor musculoesquelética é de caráter profundo,
constante, além de muito incômoda e tipicamente associada com uma sensação de
aperto e pressão. Ocasionalmente pode ocorrer com grande intensidade e piorar
com o uso das estruturas envolvidas (é uma dor que pode ser provocada) (CONTI et al., 2003; EPKER
et al., 1999; FERREIRA et al., 2009). Em
geral, a dor musculoesquelética torna o humor do paciente depressivo e de
retirá-lo de diversas atividade que anteriormente eram consideradas prazerosas
(FERREIRA
et al., 2009). As patologias mais envolvidas na dor
orofacial de origem musculoesquelética é a desordem temporomandibular
(alterações da mecânica têmporo mandibular) e as dores miofaciais (com gatilhos
localizados que geram dor) (CONTI et al., 2003; EPKER et al., 1999).
A dor neuropática é uma das mais
desafiadoras e complexas condições relacionadas a dor, por ser resultante do
dano de uma ou mais componentes do sistema nervoso periférico, central ou
autonômico (CONTI
et al., 2003; TEIXEIRA, 2003). A dor neuropática
não necessita de um estímulo nocivo em contraste a dor de origem somática. As
características clínicas são representadas por uma dor sem a presença de
estímulo deflagrador (alodinea), um aumento da dor ou propagação da mesma se
houver um estímulo álgico (hiperalgesia), a dor costuma ser em queimação e
irresponsiva ao analgésicos comuns (CONTI et al., 2003; FERREIRA et al., 2009).
A dor orofacial tem recebido cada vez
mais atenção, por ser comum na população, sendo superada em frequência apenas
depois das lombalgias e das cefaleias. É importante ressalvar que a dor
orofacial tem um caráter multidisciplinar, assim como as outras dores crônicas,
e pode envolver, além da odontologia, áreas como a otorrinolaringologia,
neurologia, psiquiatria, psicologia, oftalmologia, fonoaudiologia, fisioterapia.
Referências
BENOLIEL, R.;
SHARAV, Y. Chronic orofacial pain. Curr Pain Headache Rep. 14(1):33-40, 2010.
CONTI, P. C. R.; PERTHES, S. A.; HEIR, G. M. et al.
Orofacial pain: basic mechanisms and implication for successful management. J. Appl. Oral Sci.,
Bauru, 11 (1): 1-7, 2003.
EPKER, J.;
GATCHEL, R. J.; ELLIS III, E. A model for predicting chronic TMD: a practical
application in clinical settings. J Am Dent Assoc 130(10):1470-5, 1999.
FERREIRA, K. D. M.; GUIMARÃES, J. P.; BATISTA, G. H. P. et al.
Fatores psicológicos relacionados à sintomatologia crônica das desordens
temporomandibulares: Revisão de literatura. RFO, São Paulo. 14 (3): 262-267, 2009.
GANZBERG, S. Pain Management Part II:
Pharmacologic Management of Chronic Orofacial Pain. Anesth Prog. 57(3): 114–119, 2010.
SIQUEIRA, S.
D. T. Dor orofacial. 2011. Disponível em: http://www.dor.org.br/profissionais/pdf/RevistaDorEmDestaque_7_%5BAS%5D2.pdf.
Aceeo em: 19 set. 2013.
TEIXEIRA, MJ. Dor: Manual para o clínico. São Paulo: Atheneu; 2006. 562 p.