Por Álvaro Luiz Vieira Lubambo de
Brito
Médico Recém-Graduado pela
UFPB
Resumo
A síndrome de Diógenes é um
transtorno psiquiátrico caracterizado pelo isolamento social, comportamento paranoico,
tendência ao excessivo acúmulo de objetos inúteis, descuido extremo com a
higiene pessoal e habitacional, perda do juízo crítico. Uma grande parcela dos
portadores da síndrome não recebem diagnóstico pela característica excêntrica
do quadro e sua ocorrência em indivíduos que vivem à margem da sociedade. É um
transtorno grave, que afeta sobretudo idosos, ainda sem consenso sobre
critérios diagnósticos.
Palavras-Chave: Sintomas Psíquicos. Psiquiatria
Geriátrica. Transtornos Mentais.
A síndrome de Diógenes é um transtorno
psiquiátrico descrito pela primeira vez em 1975 e reporta-se ao filósofo grego
Diógenes de Sínope, filósofo grego do século IV a. C., que ficou conhecido por
difundir a corrente filosófica do Cinismo, que prega o desapego aos
bens materiais e um retorno a um modo de vida totalmente natural (1,2,5).
Historicamente, Diógenes ficou conhecido por “viver como um animal, dentro de
um barril e tinha como únicos bens uma coberta, uma tigela e um bastão” (2).
Este transtorno é caracterizado por um
importante desleixo com a higiene pessoal e com o asseio da própria moradia,
além de comportamento paranoico. Nesta síndrome, é frequente também o
colecionismo, que representa o acúmulo de quantidade descomedida de objetos
inúteis e lixo (2-5). O indivíduo acometido geralmente vive em extrema miséria,
em um estado físico de negligência absoluta e um isolamento auto-imposto, recusando ajuda externa. Os
pacientes que sofrem de síndrome de Diógenes são geralmente descobertos por
acaso, ou por causa de uma doença somática, ou como resultado de uma intervenção
social relacionada com os seus problemas de comportamento. A síndrome de
Diógenes é objeto de estudo para o médico que cuida de pacientes que vivem
em condições incomuns, à margem da sociedade.
É considerado um transtorno de idosos e
geralmente se acompanha de demência ou de outro transtorno psiquiátrico como
comorbidade. Cooney e Hamid (1995) estimam que este quadro tenha prevalência de
aproximadamente 5/10.000 entre idosos de mais de 60 anos. Portanto, a Síndrome
de Diógenes é um transtorno comportamental do idoso. Contudo, pessoas mais
jovens também podem apresentar a doença, em associação principalmente com alcoolismo crônico, esquizofrenia paranoide e transtorno depressivo maior.
A síndrome de Diógenes foi um termo
aplicado pela primeira vez por Clark et al. (1975) a idosos que viviam em
condições de miséria. No entanto, foi MacMillan et
al. (1966) que conduziram a primeira investigação minuciosa sobre o
problema, que chamaram de "colapso senil". Em 1985,
Klosterkötter et al. sugeriram que o termo "síndrome de Diógenes"
deveria ser empregado para designar o quadro (1). Uma grande parcela dos portadores da
síndrome não recebe diagnóstico pela característica excêntrica e falta de
juízo crítico presente, ou por não reconhecerem suas atitudes como
peculiares (4,5).
Embora várias hipóteses clínicas têm
sido sugeridas, a verdadeira etiopatogenia da síndrome permanece não
esclarecida. A maioria dos autores concorda que este comportamento não
reflete a vontade livre do indivíduo e, portanto, nesse sentido, não tem relação
teórica com o filósofo grego Diógenes. Também ainda não há verdadeiro consenso sobre
critérios diagnósticos. Em termos de etiologia são várias as hipóteses formuladas. Uma delas é que a Síndrome de Diógenes seria uma manifestação clínica da demência do lobo frontal, ou que os sintomas sejam, na verdade, a exacerbação de um transtorno de personalidade prévio, ou ainda via final de um transtorno relacionado ao colecionismo (como o transtorno obsessivo-compulsivo e a síndrome de Tourette) (3-5).
O abuso do álcool parece ser agravante ou precipitante do quadro. Estima-se que comorbidades psiquiátricas existem em cerca de 50% dos casos, sobretudo demência, abuso de álcool, psicose de vários graus e distúrbios afetivos (3,5). Também há relatos de associação com transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos de personalidade (principalmente a personalidade anancástica), esquizofrenia e doenças cerebrovasculares (4-6).
O abuso do álcool parece ser agravante ou precipitante do quadro. Estima-se que comorbidades psiquiátricas existem em cerca de 50% dos casos, sobretudo demência, abuso de álcool, psicose de vários graus e distúrbios afetivos (3,5). Também há relatos de associação com transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos de personalidade (principalmente a personalidade anancástica), esquizofrenia e doenças cerebrovasculares (4-6).
O hábito de acumular excesso de lixo ou objetos
inúteis em casa, a quebra e rejeição
de padrões sociais no total descuido pessoal e habitacional, o abandono
progressivo do contato social, com reduzido insight do problema deve
levantar a suspeita diagnóstica da síndrome de Diógenes. Esta síndrome
tem atualmente um interesse crescente tanto clínico, quanto social e de saúde
pública.
1- AMANULLAH, S.; OOMMAN, S; DATTA, S. S. “Diogenes Syndrome” Revisited. Disponível
em: http://www.gjpsy.uni-goettingen.de/gjp-article-amanullah.pdf.
Acesso em: 05 set 2013.
2- CAIXETA L. Diógenes, população de rua, luta
antimanicomial e cinismo. Rev Bras Psiquiatr. 29(1):91, 2007.
3- CLARK,
A.N.G, MANIKARR, G.O, GRAY, I. Diogenes syndrome: a clinical study of gross
neglect in old age. Lancet. 1975;1:366-8.
4- COONEY, C., HAMID, W. Review:
Diogenes syndrome. Age Ageing. 1995;24:451-3.
5- WRIGLEY, M, COONEY, C. Diogenes
syndrome: an Irish series. Ir J Psychol Med. 9:37-41, 1992.
6- STUMPF, B. P.; ROCHA,
F. L. Síndrome de Diógenes. J. Bras Psiquiatr. 59(2):156-159, 2010.