Por Germana Ribeiro de Lucena
Estudante
de Graduação em Medicina da UFPB
Resumo
A
síndrome de SAPHO cursa com sinovite, acne, pustulose, hiperostose e osteíte.
Seus primeiros casos foram descritos na década de 60, por pesquisadores
franceses. Sua prevalência é de 1:10.000, maior no sexo feminino e em crianças,
jovens até adultos de meia-idade. Sua patogênese permanece desconhecida,
entretanto há indícios da presença de fatores genéticos e infecciosos em seu
desenvolvimento e manutenção. Os sinais e sintomas da síndrome são
inespecíficos, portanto seu diagnóstico é de exclusão. O diagnóstico
diferencial por ser feito com doenças infecciosas, neoplasias e artrite
idiopática juvenil.
Palavras-chave: Sinovite. Hiperostose. Osteíte
Os primeiros casos da
síndrome de SAPHO foram descritos durante a década de 60, devido a relatos de pacientes
que apresentavam as seguintes manifestações clínicas: pústula palmoplantar,
psoríase pustulosa, hidroadenite supurativa, acne severa, sinovite
periférica, osteíte asséptica localizada na parede anterior do tórax e outros
locais do esqueleto. (BENHAMOU et al., 2006). Então, um grupo de pesquisadores
franceses decidiu realizar estudos sobre tais relatos, que culminaram com a
agrupação destas manifestações sob a sigla SAPHO, cujo significado inicial era
Síndrome de Acne Pustulosa, Hiperostose e Osteíte. Posteriormente, houve a troca
da palavra síndrome por sinovite (NAGUWA et al., 2012).
A síndrome de SAPHO é considerada
rara, possivelmente devido a seu subdiagnóstico. Estima-se que sua prevalência
seja de 1:10.000 e maior no sexo feminino. Este problema pode acometer pacientes de todas as faixas etárias, entretanto é mais frequente em crianças, jovens e
adultos de meia-idade (NAGUWA et al., 2012).
Atualmente, ela é definida através
da associação variável entre um amplo espectro de manifestações
osteoarticulares e cutâneas - pústula palmo-plantar e acne grave (SIMON;
ASSMANN, 2011)
Deve ser suspeitada em pacientes que
preencham no mínimo um dos seguintes critérios diagnósticos:
(1)Manifestações osteoarticulares com acne conglobata,
fulminante ou hidroadenite supurativa;
(2)Manifestações palmoplantares com pustulose
palmoplantar;
(3)Hiperostose axial ou apendicular com ou sem dermatose;
(4)Osteomielite multifocal crônica e recorrente envolvendo
esqueleto axial ou apendicular com ou sem dermatose.
Embora as dermatoses pustulosas tenham
sido descritas inicialmente como elemento unificador da síndrome, sua presença
não é considerada atualmente indispensável para a definição do quadro.
Embora a patogênese da doença
permaneça desconhecida, há evidências da presença de um componente genético
contribuindo para seu desenvolvimento, o que se baseia no fato de haver um
agrupamento familiar de pacientes com a patologia. Além desse fator, há indícios
de que a susceptibilidade à doença seja atribuída à presença do alelo SNP Mdm2
T309G, responsável por induzir elevados níveis de Mdm2 e, desse modo, uma
resposta menos eficiente do gene P53, com possível aumento da atividade do
NFkB. (ASSMANN et al., 2010).
Os estudos mais recentes sobre o
tema apontam uma provável associação entre fenômenos auto-imunes e infecções. E
propõem que agentes infecciosos, sobretudo P.
acnes, possam desencadear uma resposta inflamatória mediada por receptores
toll-like, com produção de anticorpos com reação cruzada (ASSMANN; SIMON, 2011)
O envolvimento articular é insidioso,
cursa com dores de forte intensidade, edema de tecidos moles, rubor e calor nos
locais afetados, limitação do movimento e rigidez matinal. As regiões mais
afetadas, em adultos, são: parede anterior do tórax (65-90%), coluna (30%),
sobretudo a lombar e cervical; em crianças: os ossos longos, sobretudo tíbia e
fêmur. Sinovite em articulações periféricas, distantes do sítio de envolvimento
ósseo primário, é comum em adultos, embora seja rara em crianças. (NAGUWA et
al., 2012).
Manifestações cutâneas podem ocorrer
ou não, quando presentes podem ser: simultâneas (em menos de 30% dos
pacientes), anteriores ou posteriores, as ósseas. Tais lesões são dermatoses
neutrofílicas, dentre as quais a mais comum é a pustulose palmo-plantar (50-75%);
a acne conglobata ou fulminante acomete apenas 25% dos pacientes, com maior
prevalência no sexo masculino. Manifestações sistêmicas são incomuns, entretanto,
pode haver febre e elevação de proteína C reativa (NAGUWA et al., 2012).
Os sinais e sintomas da síndrome de SAPHO não são específicos, portanto seu diagnóstico é de exclusão, os critérios utilizados para isso foram elaborados por Benhamou et al. (1988) A presença de no mínimo um dos quatro critérios de inclusão é suficiente para diagnosticar a síndrome. Os critérios são os seguintes:
Os sinais e sintomas da síndrome de SAPHO não são específicos, portanto seu diagnóstico é de exclusão, os critérios utilizados para isso foram elaborados por Benhamou et al. (1988) A presença de no mínimo um dos quatro critérios de inclusão é suficiente para diagnosticar a síndrome. Os critérios são os seguintes:
× Critérios de inclusão: manifestações
osteo-articulares e acne conglobata,
fulminante ou hidradenite supurativa; manifestações osteoarticulares e pustulose palmo-plantar; hiperostose com
ou sem dermatose; osteomielite multifocal recorrente crônica envolvendo
esqueleto axial ou periférico com ou sem dermatose;
× Critérios de exclusão: osteomielite séptica; artrite
infecciosa da parede anterior do tórax; infecção com pustulose palmo-plantar; ceratodermia
palmo-plantar; hiperostose esquelética idiopática difusa, exceto para associação fortuita; manifestações
osteo-articulares com terapia com retinoide.
- Possíveis associações com psoríase vulgar, enterocolopatia, espondilite anquilosante e infecções bacterianas;
- Possíveis associações com psoríase vulgar, enterocolopatia, espondilite anquilosante e infecções bacterianas;
O diagnóstico diferencial pode ser
feito com osteomielite infecciosa, osteossarcoma, sarcoma de Ewing, metástase
óssea, granuloma eosinofílico, doença de Paget, espondilodiscite infecciosa,
osteoartrite esterno-clavicular, osteíte condensante da clavícula, osteonecrose
da epífise medial clavicular e artrite idiopática juvenil.
Guerra et al. (2005)
questionam se a Síndrome de Sapho é uma entidade rara ou subdiagnosticada. Esta
afecção deve ser considerada como diagnóstico diferencial em todo paciente que
apresente quadro doloroso de parede torácica ou dor torácica musculoesquelética
acompanhada de manifestações dermatológicas e/ou osteíte.
Referências
ASSMANN, G.; SIMON, P. The
SAPHO syndrome--are microbes involved? Best
Pract Res Clin Rheumatol. 25 (3): 423-34, 2011.
ASSMANN, A. D. WAGNER, M.;
MONIKA, M. et al. Single-nucleotide
polymorphisms p53 G72C and Mdm2 T309G in patients with psoriasis, psoriatic
arthritis and SAPHO syndrome. Rheumatology
International, 30 (10): 1273–1276, 2010.
BENHAMOU, C. L.; CHAMOT, A.
M.; KAHN, M. F. Synovitis-acne-pustulosis hyperostosis-osteomyelitis syndrome
(SAPHO). A new syndrome among the spondyloarthropathies? Clin Exp Rheumatol 6:109-12, 1988.
CHAMOT, C. L.;
BENHAMOU, M.F.; KAHN, L. et al. Acne-pustulosis-hyperostosis-osteitis syndrome.
Results
of a national survey. 85 cases. Rev Rhum
Mal Osteoartic, 54 (1987), pp. 187–196
GUERRA, J. G.; LIMA, F. A. C.; MACEDO, L. M. G. et al. Síndrome SAPHO:
entidade rara ou subdiagnosticada? Radiol Bras 38 (4): 265-271,
2005.
NGUYEN, M. T.; BORCHERS, A.;
SELMI, C. et al. The SAPHO syndrome. Semin
Arthritis Rheum. 42 (3): 254-65, 2012
Imagem: Guerra et al. (2005).