Por Josué Vieira da Silva
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB
Resumo
O
cisto de Baker, ou cisto poplíteo, é uma espécie de bolsa que se
desenvolve na região posterior do joelho e que, mediante ruptura, pode simular
clinicamente episódios de trombose venosa profunda. Sua
patogenia está relacionada à proliferação da membrana sinovial da região poplítea, com invasão e dissecção dos planos musculares da panturrilha. É mais frequente em crianças, porém sua presença no adulto está associada à existência de lesão intra-articular, como lesões meniscais, e às lesões decorrentes de osteoartrite, artrite reumatoide e gota. A apresentação clínica mais comum é de uma massa indolor palpável na face medial da região poplítea, mas os pacientes podem referir também dor ou sensação de instabilidade da articulação ao exercício físico.
Palavras-chave: Cisto de Baker. Cisto Popliteal.
Cisto Sinovial.
Cisto de Baker, também
conhecido como cisto poplíteo, refere-se a uma bolsa de tecido sinovial que se
projeta na região posterior do joelho, separando os tendões do músculo
semimembranoso e do gastrocnêmio. Apresenta distribuição bimodial, com picos na
infância e na idade adulta, estimando-se sua prevalência em 5% aumentando
(DEMANGE, 2011). Na criança, em geral constitui um achado acidental ao exame
físico e métodos de imagem, não apresentando maiores repercussões clínicas. No
entanto, a presença deste cisto no adulto está existência de lesão
intra-articular, como lesões meniscais, e às alterações decorrentes de
osteoartrite, artrite reumatoide e gota.
A patogênese do cisto de
Baker está associada a uma disfunção na comunicação entre a bursa
gastrocnêmio-semimembranosa e a cavidade articular. Assim, condições que levem
ao enfraquecimento da cápsula articular e aumento da sua pressão, como os
derrames articulares podem estar envolvidos em sua formação (GUIMARAES et al.,
2006). (Figura)
A apresentação clínica mais
comum é de uma massa indolor palpável na face medial da região poplítea, mas os
pacientes podem referir também dor ou sensação de instabilidade da articulação
ao exercício físico (GOLDMAN, 2012). A sensação de pressão na região posterior
do joelho ao estender a articulação também pode ser relatada, e se deve ao
aumento da pressão no interior desta articulação durante a extensão da perna.
Entretanto, em grande parte dos casos as queixas clínicas não se referem
diretamente ao cisto, mas aos problemas relacionados a sua formação. Assim,
estes pacientes frequentemente se apresentam ao médico com queixas relacionadas
as lesões de menisco, osteoartrite, artrite reumatoide e gota (ABDELRAHMAN et
al., 2012).
Eventualmente um cisto de
Baker pode sofrer ruptura e cursar com dor aguda e intensa, seguida de edema na
região posterior do joelho, simulando um quadro de tromboflebite ou trombose
venosa profunda (TVP). Todo portador de artrite reumatoide, osteoartrite, gota
ou lesão meniscal que desenvolver sinais e sintomas sugestivos de TVP, deve ser
investigado para cisto poplíteo, o que pode ser feito mediante a realização de
ultrassonografia Doppler do membro acometido. Na tromboflebite, frequentemente
se encontra cordão palpável que corresponde à veia trombosada
(DEMANGE, 2011). Nos cistos de grande volume, pode ocorrer compressão de
estruturas vizinhas determinando sinais e sintomas característicos como dor e
atrofia da perna devido a compressão do nervo tibial posterior, mas tal
apresentação é rara (DASH, 1998).
O exame físico deve ser
realizado com o paciente em decúbito ventral, em seguida realiza-se a palpação
da porção medial da fossa poplítea com o joelho estendido e fletido a 90 graus.
Percebe-se, através da palpação, uma massa redonda, mole e bem delimitada,
indolor. Fletindo-se o joelho a 45 graus, a massa pode se tornar impalpável;
isso ocorre devido à diminuição da pressão intra-articular consequente a esta
manobra. Este achado é denominado sinal de Foucher, que pode ser útil no
diagnóstico diferencial com massas sólidas e fixas que não mudam de posição
(DEMANGE, 2011).
Outros diagnósticos
diferenciais que devem ser levantados incluem o fibrosarcoma, o sarcoma
sinovial e o fibrohistiocitoma maligno. Estes são neoplasias que podem
apresentar-se de forma cística na região poplítea. Tais casos devem ser
suspeitados, em particular, quando os cistos não se apresentarem em sua
localização típica, se recidivarem após tratamento cirúrgico ou se
tiverem crescimento acelerado. No entanto, tais apresentações são raras.
Aneurismas na região poplítea também podem simular um cisto de Baker, e sua
diferenciação pode ser realizada através da palpação, que identifica lesão
pulsátil e por meio da ausculta local (DEMANGE, 2011). Ainda, a doença cística
da artéria poplítea constitui outro importante diagnóstico diferencial do cisto
de Baker, podendo cursar com dor e claudicação intermitente.
Como método complementar, a
ultrassonografia simples, na maioria das vezes, é suficiente para estabelecer o
diagnóstico, entretanto a USG-Doppler pode ser utilizada nos casos de cisto de
Baker roto com o objetivo de diferenciar a apresentação com tromboflebite ou
TVP. Outros exames de imagens, como o exame de ressonância - RNM, auxiliam na
identificação do cisto de Baker e das causas associadas. Akgul
et al. (2014) demonstraram que muitos pacientes podem ter cisto de Baker sem apresentar quaisquer sintomas na fossa poplítea e o exame clínico desta não o detecta com precisão. Segundo estes autores, o exame da
fossa poplítea através da ultrassonografia deveria ser realizado em pacientes
com condições predisponentes para detectar este achado.
Referências
AKGUL, O; GULDESTE, Z; OZGOCMEN, S. The
reliability of the clinical examination for detecting Baker's cyst in
asymptomatic fossa. Int J Rheum Dis. 17 (2):204-9, 2014.
GOLDMAN, A. Cecil
Medicine. 24ª edição, Saunders, Elsevier, 2012.
DASH, S.; BHEEMREDDY, S.R.; TIKU, M.L. Posterior tibial neuropathy from
ruptured Baker's cyst. Semin Arthritis Rheum. 27:272–276, 1998.
DEMANGE, M. K. Cisto de
Baker. Rev.
bras. ortop. 46 (6): 630-633, 2011.
GUIMARAES,
M. C.; YAMAGUCHI, C. K.; NATOUR, J.; FERNANDES, A. R. C. Avaliação por
imagem de formações císticas no joelho. Rev. Bras. Reumatol. 46 (6): 415-418,
2006.
ABDELRAHMAN M. H.; TUBEISHAT S.; HAMMOUDEH M. “Proximal Dissection and
Rupture of a Popliteal Cyst: A Case Report,” Case
Reports in Radiology, Article ID 292414, p. 2, 2012.
Imagem: www.diatro.org