Por Daniel Idelfonso Dantas
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB
Resumo
A anamnese ocupacional faz
parte da entrevista médica e serve para orientar o raciocínio clínico quanto à
contribuição do trabalho, atual ou anterior, na determinação, na evolução ou
agravamento da doença. Quando bem colhida, torna-se útil na investigação das
relações de causa-efeito entre a doença e profissão, assim como auxilia a
descartar qualquer hipótese de associação entre o trabalho e a enfermidade. Quando se evidencia uma estreita
associação com a exposição ambiental ou ocupacional, torna-se imprescindível o detalhamento do risco.
Palavras-chave: Saúde do Trabalhador. Anamnese. Medicina do Trabalho.
A palavra anamnese origina-se
de aná = "trazer de novo" e mnesis = "memória". Anamnese significa, portanto,
trazer de volta à memória todos os fatos relacionados à doença e à pessoa doente.
É mais do que isso, é o núcleo do qual se desenvolve a relação médico-paciente (PORTO, 2011).
A anamnese ocupacional faz parte da entrevista médica e compreende a historia clínica atual, a investigação sobre os diversos sistemas ou aparelhos, os antecedentes pessoais e familiares, a história ocupacional, hábito e estilo de vida, o exame físico e a propedêutica complementar.
A anamnese ocupacional faz parte da entrevista médica e compreende a historia clínica atual, a investigação sobre os diversos sistemas ou aparelhos, os antecedentes pessoais e familiares, a história ocupacional, hábito e estilo de vida, o exame físico e a propedêutica complementar.
O principal instrumento para
a investigação das relações saúde-trabalho-doença e, portanto, para o
diagnóstico correto do dano para a saúde e da relação etiológica com o
trabalho, é representado pela anamnese ocupacional. Esta é a ferramenta padrão
para saber se a doença do trabalhador tem alguma relação com a atividade que
exerce.
Pode-se confirmar a relação
de causa-efeito entre a doença e profissão, seu agravamento, ou ainda descartar
qualquer hipótese que relacione o trabalho com a enfermidade. Além disso, serve
para identificar padrões epidemiológicos, já que abrange perguntas relacionadas
não apenas ao paciente em questão, mas o estado de saúde de seus colegas de
trabalho (MENDES, 2003).
Apesar dos avanços e da
sofisticação das técnicas para o estudo dos ambientes e condições de trabalho,
muitas vezes, apenas os trabalhadores sabem descrever as reais condições,
circunstâncias e imprevistos que ocorrem no cotidiano e são capazes de explicar
o adoecimento (MENDES, 1995).
Estima-se
que até 20%das doenças intersticiais e das vias aéreas são decorrentes dessas
exposições. Por outro lado, raramente encontramos nas anamneses rotineiras informações sobre
eventuais exposições ambientais ou sobre o trabalho/ocupação/função dos pacientes (MENDES, 1988).
Qual é o seu trabalho/ocupação/atividade
principal e há quanto tempo vem exercendo? Quais outras ocupações exercidas e
há quanto tempo? Seus sintomas relacionam-se com suas atividades no trabalho,
na sua casa, no ambiente em geral, ou nas atividades paralelas, como "bicos" ou hobby? Você já esteve exposto a
poeiras, fumos, gases ou vapores? Estas são perguntas que não podem faltar na
anamnese. É preciso verificar a cronologia das ocupações/trabalhos, com
descrição detalhada da ocupação principal e de outras ocupações mesmo que
ocasionais. Quando se evidencia uma estreita associação com a exposição
ambiental ou ocupacional, torna-se imprescindível o detalhamento do risco.
De forma sistemática, a
realização da anamnese ocupacional deve estar incorporada à entrevista clinica
e seguir uma sistematização para que nenhum aspecto relevante seja omitido, por
meio de perguntas básicas (BRASIL, 2001):
- O que faz? Definir qual a ocupação do paciente; tem como objetivo saber exatamente qual é a rotina do trabalhador, para ter uma ideia de
quais são as características da função que exerce.
- Como faz? Procurar saber como é realizado o
trabalho, quais as posições adotadas, ou seja, o que mais é exigido do corpo.
- Com que faz? Saber quais
os instrumentos e produtos que o paciente manipula. Muitas alergias surgem de
produtos químicos manipulados no trabalho, por exemplo.
- Com quem faz? Avaliar o risco em outros
trabalhadores expostos aos mecanismos de aparecimento da doença, caso haja
relação com o trabalho.
- Onde faz? Ter uma descrição do posto ou local de
trabalho, o ambiente e seus detalhes específicos: espaço físico, condições de
iluminação e ventilação.
- Quanto tempo faz? Algumas doenças têm caráter crônico e
podem estar silenciosas desde o início das atividades.
- E antes disso?... Investigar as ocupações anteriores,
dada a variabilidade dos períodos de latência requeridos para o surgimento de
uma patologia relacionada ao trabalho: de algumas horas, como no caso de uma
conjuntivite por exposição a irritantes químicos e a períodos superiores a 20
anos, como no caso da silicose e de alguns tipos de câncer. Porém, não são
consideradas doenças ocupacionais, as doenças degenerativas, doenças endêmicas,
doenças inerentes a grupo etário e doenças que não produzam incapacidade
laborativa.
Ainda que não seja possível
fazer um diagnóstico de certeza, a história ocupacional adequadamente colhida do
trabalhador servirá para orientar o raciocínio clinico quanto à contribuição do
trabalho, atual ou anterior, na determinação, na evolução ou agravamento da
doença. Em alguns casos, a história ocupacional pode desvelar a exposição a uma
situação ou fator de risco para a saúde presente no trabalho que, mesmo na
ausência de qualquer manifestação clínica e laboratorial, indica a necessidade
de monitoramento ou vigilância (DIAS, 1994).
Portanto, da
mesma forma que uma boa anamnese é fundamental para o diagnóstico em geral, a
história de exposição ambiental e ocupacional é informação basilar para o
entendimento e detecção das doenças respiratórias ocupacionais.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde.
A investigação das relações saúde- trabalho, o estabelecimento do nexo causal
da doença com o trabalho e as ações decorrentes. In: Manual de doenças relacionadas ao
trabalho. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. p. 27-36.
DIAS, E. C. A atenção à saúde dos trabalhadores
no setor saúde (SUS), no Brasil: realidade, fantasia ou utopia? Campinas: Universidade Estadual de
Campinas, 1994.
MENDES, R. Patologia do Trabalho. Rio de
Janeiro: Atheneu, 2003.
MENDES, V. G.; BAHIA, G. O.
M. A demanda de um serviço de
Saúde do Trabalhador, no Estado de Minas Gerais no ano de 1994-1995. Belo
Horizonte: Escola de Saúde de Minas Gerais, 1995.
MENDES, R. O
impacto dos efeitos da ocupação sobre a saúde de trabalhadores: I. Morbidade. Rev. Saúde Pública. 22 (4): 311-326, 1988.
PORTO, C. C. Semiologia Médica. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
Imagem: http://www.europeanlung.org