28 de março de 2015

Osce do Internato em Clínica Médica do HULW - V Edição

Ocorreu hoje a quinta edição da Avaliação Objetiva Estruturada por estações (Osce) de Clínica Médica para 38 alunos do Internato do curso de Medicina da Universidade Federal da Paraíba (Centro de Ciências Médicas/ UFPB)/Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW). A avaliação começou às 8h10 e terminou às 11h40, com seis minutos para cada aluno em cada uma das três estações.
Os casos clínicos de cada estacão da prova com os respectivos checklists, foram os seguintes:

ESTAÇÃO 1
ENUNCIADO: José Francisco, 32 anos, solteiro, mora no bairro  de Mandacaru, em João Pessoa-PB, e sua ocupação é “guardador de carros”. Foi internado na enfermaria de Clínica Médica do HULW por febre intermitente e calafrios há 3 semanas. Como sintomas associados, relatou mal-estar geral, anorexia, perda de 4 kg de e manchas nas mãos e pés há 15 dias. Negou uso de drogas intravenosas, viagens recentes e outros antecedentes patológicos. Ao exame físico, em estado geral comprometido, pálido +++/4+, consciente, anictérico, acianótico, febril. PA: 120/70 mmHg; pulso: 80 bpm; frequência respiratória: 22 irpm; temperatura: 38,5°C. Apresenta dentes em mau estado de conservação e sinais de abscesso em uma cavidade molar, embora o paciente não tenha se queixado de dor dental. Ausculta cardíaca: sopro pansistólico na área mitral, bulhas normofonéticas. Ausculta pulmonar normal. Abdome indolor e sem visceromegalias. Presença de múltiplas máculas hemorrágicas e pápulas na região volar das mãos e pés [Figuras 1 e 2]. Restante da pele, mucosas e unhas normais. Sem sinais de irritação meníngea.
Figura 1
 
Figura 2

INSTRUÇÕES PARA AS RESPOSTAS
     (1)  Apresente suas duas hipóteses diagnósticas principais.
(2)  Que sinal denomina as lesões cutâneas de mãos e pés?
(3)  Que exames você solicitaria?

CHECKLIST
Itens
Respostas
Sim
1
Endocardite infecciosa
Sepse
5

Outras respostas complementares – sem menção às respostas acima – abscesso periodontal, anemia, drogadição, valvopatia
Adicional, só quando não houver outra resposta: 1
2
Manchas de Janeway
2
3
Hemoculturas e ecocardiograma
3

ESTAÇÃO 2
ENUNCIADO:  Paciente diabético, 55 anos, masculino, solteiro, auxiliar de serviços gerais, ensino fundamental incompleto, renda de 2 salários mínimos, vem ao ambulatório de clínica médica do HULW com queixa principal de calos e feridas nos pés. Sintomas associados: queimação, pontadas e agulhadas nos membros inferiores à noite. Informou que é hipertenso e que descobriu ser diabético há cinco meses em posto do PSF. O paciente não pratica nenhuma atividade física e mora sozinho. Peso: 88 Kg, altura: 1,65cm. PA: 160/100 mmHg. Pés apresentando úlceras plantares, hiperceratose, rachaduras e unhas distróficas [Figura 3].

Figura 3

INSTRUÇÕES PARA AS RESPOSTAS:
 (1) Escreva as suas hipóteses diagnósticas, além de hipertensão arterial e diabetes mellitus.
(2) Escreva as orientações apropriadas a este doente, considerando seus problemas e institua o tratamento voltado para sua queixa principal antes de encaminhá-lo a um especialista, se for o caso.

CHECKLIST
Itens
Respostas
Sim
1
Mal perfurante plantar e neuropatia diabética
4

Outras respostas complementares – sem menção às respostas acima – obesidade, onicomicose
Adicional, só quando não houver outra resposta: 1
2
Controle metabólico*
Avaliou sinais de infecção local
Avaliou condições vasculares dos pés (pulsos, perfusão)
Repouso das extremidades e curativos diários
Avaliou profundidade da lesão com haste romba e estéril (hipótese secundária de osteomielite)
Indicou calçados terapêuticos para alívio do estresse plantar
2
1

1
1

0,5

0,5

Outras respostas complementares – sem menção às respostas acima –
Pediu contato com um familiar
Indicou hidratante para os calcâneos
Indicou medicamento para alívio das parestesias
Adicional, só quando não houver outra resposta: 1
*Embora as instruções para as respostas tenham mencionado tratamento voltado para sua queixa principal, a indicação de controle metabólico é o primeiro objetivo na resolução do problema, pois sem este controle nenhuma outra medida será efetiva.

ESTAÇÃO 3
ENUNCIADO:  Paulo, 65 anos, não vinha se sentindo bem nos últimos meses, passava o dia todo sentido-se fraco e indisposto. Além disso, estava sem apetite, emagrecendo e frequentemente era acometido por náuseas e vômitos. Com estes sintomas, resolveu procurar atendimento médico. Possui antecedentes de hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus 15 anos, com tratamento medicamentoso e dietético irregulares. Ao exame físico, em REG, descorado ++/4, emagrecido, pele seca e com áreas de despigmentação. Edema periférico ++/4, frio, cacifo +. Hálito amoniacal e tremores de extremidades. Sinais vitais - PA: 160/100 mmHg; FC: 90 bpm. Ausculta cardíaca e pulmonar sem alterações significativas.

INSTRUÇÕES PARA AS RESPOSTAS:
(1)   Qual é a sua hipótese diagnóstica?
(2)   Que exames você solicitaria?

CHECKLIST
Itens
Respostas
Sim
1
Insuficiência renal crônica / uremia
6

Outras respostas complementares – sem menção às respostas acima – nefropatia diabética, hipertensão arterial, anemia
1
2
Sumário de urina, creatinina, ureia, taxa de filtração glomerular (clearance de creatinina)
4

Outras respostas complementares – sem menção às respostas acima – proteinúria de 24 horas
Adicional, só quando não houver outra resposta: 1

Comissão do OSCE/CM/CCM/UFPB
Ângela Siqueira Figueiredo
Leina Yukari Etto
José Luis Simões Maroja
Luis Fábio Barbosa Botelho
Rilva Lopes de Sousa Muñoz (Coord.)

25 de março de 2015

Hoje o HU era só Poesia...

Por Carolina Campos Brito
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB

Hoje o HU era só poesia. Poesia alegre, poesia triste, mas era poesia. O assobio, realizado com tanto esmero, daquela música tão melancólica transpunha paredes, atravessava corredores, dava a curva e entrava na salinha de prescrição, onde eu me encontrava - tão quente, tão abafada, ao mesmo tempo que, lá fora, a chuva caía - e ecoava em mim, em todo o meu arcabouço, que ressoava, e chegava até ao coração, até aos miócitos, até às menores partículas que possam existir. De quem seria? Quem emanava aquele som? Pelo que estava passando, que problemas estaria enfrentando? Seria homem ou mulher? Será que tinha um amor? Será que chorava por ele? Ou será que simplesmente assobiava aquela canção, só assim, por assobiar?
Fui examinar meus pacientes, naquele quarto, o 317. Desde que entrei na Enfermaria Pediátrica, todos os meus pequeninos, não sei por quê, se obra do destino ou se coisa comum, sem significado, todos eles são/foram daquele mesmo quarto, daquele 317. O menorzinho (vou chamar assim em nome da boa ética) dormia, com sua sonda nasogástrica e seu acesso venoso central da veia subclávia direita. Abriu os olhinhos quando cheguei, num olhar perdido, como tinha sempre, e voltou a fechá-los, como quem não me deu muita importância. "Bom dia, pequenino! Titia chegou para te ver! Como está lindo todo enroladinho nesse lençol!", falava, enquanto tirava meu estetoscópio azul do pescoço e aproveitava o sono do pequeno para fazer as devidas auscultas, com calma.
No berço à frente, estava minha outra paciente, de apenas 4 meses, dormindo. Desnutrida, sonda nasogástrica instalada. Parecia um soninho tão gostoso que por uns segundos eu invejei... Do lado, a mãe, toda coberta, até a cabeça, numa poltrona preta, também dormia. Essa mulher tinha sido acusada de roubar, semana passada, o celular de outra mãe do quarto e foi pega no flagra. Lamentei o ocorrido. Furtou, mas continuava ali, do lado da filha, embora a bebê estivesse com o berço aberto, situação de perigo. Ontem, durante o exame, o mau cheiro era tremendo. 
Ao olhar para o lado, estava a mãe do primeiro paciente que comentei, debruçada sobre o berço de outra criança, uma garota. Chegara na semana anterior a pequenina, deve ter por volta dos 6 anos. Suspeita de calazar. Foi tão amorosa comigo ao ser internada. Deu-me boas-vindas (é, ela que me deu boas-vindas, e não o contrário) alegre, sapeca, com um balão feito de luva cirúrgica, todo rabiscado, enquanto dizia: "titia, titia, desenha um bolo pra mim!". E eu desenhei um bolo, dois (um ela disse que era de chocolate), uma casa, um jardim, uma nuvem, o sol, uma flor e uma borboleta, coisas assim, bem simples, quase rabiscos. Ganhei em troca um sorrisão, daqueles que te deixam satisfeita, feliz, daqueles que de tão singelo e sincero conseguem provocar aquelas sensações gostosas que a pessoa tem e não sabe muito bem explicar. E nem precisa.
Desde ontem a alegria da princesa tinha sumido. Seu tio fora assassinado no final de semana. Correram boatos que mexia com drogas. A mãe da criança, irmã do falecido, enlouqueceu, segundo os comentários. Destratou a pequenina e simplesmente foi embora, para o enterro do irmão, pelo que eu soube. Enquanto isso, a paciente ficou lá, sozinha, sem sorriso nos lábios, sem olhar de vivacidade, sem vontade de brincar, sem mãe. Mas ganhou uma amiga: sim, a mãe do paciente pequenino, a que estava debruçada sobre o berço dela quando cheguei no quarto. É uma menina acalentando outra. Só tem 15 anos. Mas é uma companhia, e tem cuidado, e tem dado banho, e penteado os cabelos, e dado comida. Tem dado amor. Disseram que a genitora da criança voltava hoje, mas não se sabe ao certo. A garota piorou, passou de uma febre de 37.8 para 39.8ºC, tosse com secreção. Soube que haviam solicitado radiografia de tórax e iam iniciar antibioticoterapia.
Aproximei-me da pequena, que não parecia muito simpática. A mãe "adotiva", vou assim chamar, a botou no colo, enquanto a enfermeira ia tirando o esparadrapo que estava no braço da menina, fruto de um acesso periférico. Ela havia colhido sangue também. E enquanto a profissional desenrolava aquela fita branca, que gruda mais do que tudo, a menina pegou minha mão, e apertava. Olhei para o seu rostinho, suado, com medo. E apertava, apertava tanto, como em busca de um consolo, de um amparo, de uma proteção. E eu conversava com ela, dizendo: "Olha, titia vai desenhar tudo aquilo pra tu, e mais um montão de coisas! Vai fazer até bolo de morango dessa vez! Certo?" Ganhei um balançar de cabeça, quase imperceptível, concordando com o que eu falava. É, eu servi de amparo para aquela criança.
Saí mais cedo hoje, e estou cheia de coisa para estudar. Mas era mais forte do que eu. Eu precisava escrever. Precisava, porque hoje o HU era só poesia. Poesia alegre, poesia triste, mas era poesia. 

Foto: Carolina Campos Brito

20 de março de 2015

Livro "A History of Medicine"

A History of Medicine
Autor DOUGLAS GUTHRIE
Publicado em Londres, por Thomas Nelson and Sons, em 1945. 
Livro sobre a história da Medicina desde os tempos pré-históricos até o presente, incluindo babilônica, grega, romana, árabe, medieval, renascentista, além das descobertas da ciência moderna e da patologia, e muitos aspectos associados na sociedade. Cada um dos 20 capítulos fornece uma lista útil de referências bibliográficas. Publicado pela primeira vez em 1945. A presente cópia é uma reedição do mesmo ano.