Devolutiva da II Prova Escrita do Módulo de História da Medicina e da Bioética no Semestre 2016.2
1- Como se davam as práticas de cura no Brasil nos séculos XVII e XVIII? Responda dissertando em, no máximo, 15 linhas.
Havia uma diversidade de agentes de cura, assim como diversos saberes curativos e formas de entender e curar as enfermidades nos três primeiros séculos do Brasil colônia, tempos em que os médicos eram poucos e competiam com outros curadores. Era pequeno o número de médicos licenciados vindos de Portugal, pelos baixos salários destinados aos que se dispunham a atravessar o Atlântico. Os primeiros profissionais com aval da corte portuguesa que vieram a se fixar no Brasil foram poucos cirurgiões e boticários. Apenas depois, já no século XIX, maior número de médicos diplomados passariam a atender os habitantes do Brasil. Estes recebiam assistência de cirurgiões-barbeiros, boticários e vários tipos de curandeiros, sangradores e parteiras. As curas também eram empreendidas por escravos e mestiços no século XVIII. Em uma sociedade escravocrata, os escravos eram os principais curadores. Estes praticantes não tinham atividade regulamentada, mas eram aceitos pelas autoridades por uma necessidade de sobrevivência da população e pelos interesses econômicos da exploração colonial.
Podiam-se também incluir na resposta os seguintes aspectos:
No Brasil, as irmandades religiosas se instalaram a partir da colonização e se
tornaram importantes órgãos de filantropia. A ação na área da saúde, nas curas e na fundação e manutenção de hospitais, as Santas Casas de Misericórdia, compunha também um suporte ao trabalho dos médicos. Os missionários foram, por quase dois séculos, os grandes responsáveis por socorrer a população em todo tipo de afecções.
tornaram importantes órgãos de filantropia. A ação na área da saúde, nas curas e na fundação e manutenção de hospitais, as Santas Casas de Misericórdia, compunha também um suporte ao trabalho dos médicos. Os missionários foram, por quase dois séculos, os grandes responsáveis por socorrer a população em todo tipo de afecções.
Durante o período de exploração do ouro em Minas Gerais houve doenças e males que atingiram principalmente a força de trabalho utilizada.
Também havia o trabalho dos Jesuítas com suas farmacopeias e coleções de receitas, através das quais divulgaram os segredos do receituário indígena.
2- Teça considerações históricas sobre o impacto da doença que foi tida como “o mais horrível dos flagelos” na província da Parahyba Oitocentista (mínimo 10 linhas, máximo 20 linhas)
Em fins de 1861, a cólera morbus trouxe à tona o clima de terror para a população da província da Parahyba que vivenciou, no ano de 1856, uma crise epidêmica de elevada mortalidade, deixando cerca de 30.000 mortes em uma população que não totalizava trezentos mil habitantes, gerando, no imaginário dos contemporâneos, a própria representação da morte, tanto pela sintomatologia que provocava, quanto pelo seu súbito aparecimento e alta mortalidade, que deixaram a população em pânico. A temática virou notícia nos periódicos paraibanos, onde o nome “cólera” geralmente sequer era mencionado, sendo citada como “a doença”, a representação do mal que atacava a vida. Naquela época, as práticas sanitárias eram precárias, ainda não se sabia a causa da epidemia e havia uma grande crise econômica na província. Imperava no pensamento dos sanitaristas a ideia de que os miasmas eram os responsáveis pela disseminação de doenças. Essa doença infectocontagiosa, causada pela ingestão de água ou alimentos contaminados pela bactéria Vibrio cholerae só teve sua etiologia conhecida em 1883, pelo médico alemão Robert Koch.
3- Comente um dos fatos relacionados com eugenia ocorridos no Brasil no século XX. (10 a 20 linhas)
Entre o início do século XIX até o século XX (1930), ocorreu no Brasil uma tendência higienista, que se baseava em ideias de natureza eugênica. A higiene se articulava com eugenia como promotoras da saúde no Brasil através das ideias de médicos e intelectuais. Isso aconteceu, historicamente, como consequência do movimento de eugenia mundial e da onda de imigração, que levou a uma rápida industrialização e urbanização no Brasil, sem planejamento, havendo, então, inúmeros problemas dos quais destacam-se os médico-sanitários. Esse movimento levava em conta a situação racial do país, que era (é) racialmente híbrido, resultando da miscigenação de indígenas, africanos e povos europeus. Os médicos higienistas tornaram-se protagonistas desse processo, difundindo um discurso construído com elementos eugênicos e higienistas que tinham como destino a melhoria da sociedade, através da questão da hereditariedade, no sentido de reduzir a mestiçagem, que seria a responsável pelo atraso da nação. O Estado e a sociedade deveriam, então, tomar providências, como a de desenvolver uma “política eugenista de imigração”. Totalmente desamparados pelo Estado, a população indígena e sertaneja que habitava o interior do Brasil vivia em péssimas condições sanitárias. O renomado escritor, editor e ativista Monteiro Lobato participou desse processo, escrevendo sobre a mestiçagem de seu personagem Jeca Tatu como a responsável por sua condição de sujo, preguiçoso e doente, relacionando as condições de vida do caboclo dos sertões brasileiros à sua miséria e às doenças que o afetavam. No chamado "embranquecimento", baseado no reconhecimento da superioridade racial européia, também buscou-se afastar imigrantes japoneses por causa do risco de doenças e porque não contribuiriam para o “branqueamento” da população. Este antiniponismo levou à busca de controle imigratório para evitar maior miscigenação dos orientais aos brasileiros.
4- Mencione e comente a seguinte afirmação sobre a história da Bioética: A história da pesquisa envolvendo seres humanos percorreu caminhos perversos e confusos, contendo investigações cercadas de crueldade e realizadas por médicos, mesmo após II Guerra Mundial (mínimo de 10 linhas e máximo de 20)
Apesar do reconhecimento do Código de Nuremberg e da Declaração de Helsinki, pesquisas médicas com deslizes bioéticos graves continuaram a sere realizadas. Exemplos de estudos que tiveram repercussões negativas na história da Bioética, pela absoluta falta de consentimento e informação dos pacientes ou seus responsáveis, e que ocorreram mesmo após o Julgamento de Nuremberg podem ser citados. O estudo da sífilis não-tratada de Tuskegee, um ensaio clínico conduzido pelo Serviço Público de Saúde dos Estados Unidos em Tuskegee, Alabama, entre 1932 e 1972 (portanto, que persistiu mais de duas décadas após a II Guerra Mundial), no qual 399 sifilíticos afro-americanos pobres e analfabetos foram usados como cobaias na observação da progressão natural da sífilis sem medicamentos. Outro caso é o episódio que ficou conhecido no cenário internacional da violação dos direitos humanos de vulneráveis como o Caso Willowbrook, em que centenas de crianças pobres e especiais foram contaminadas com o vírus da hepatite B para servirem de cobaias para experimentos científicos. Ainda outro episódio que vem sendo considerado como um dos mais sombrios da história da pesquisa médica durante a década de 1940, foi a realizados por cientistas dos EUA, que infectaram propositalmente com as bactérias da sífilis e da gonorreia prisioneiros e doentes mentais guatemaltecos.
5- Os exames laboratoriais já exerciam papel importante na medicina quando surgiram as primeiras descobertas envolvendo os exames de imagem que ajudaram a revolucionar o conceito de diagnóstico do paciente. Comente os primórdios do uso dos raios-X na medicina. (10 a 20 linhas)
O físico alemão Wilhelm Röntgen descobriu a radiação conhecida hoje como raios-X, ou raios Röntgen, em 1895, enquanto investigava os efeitos externos da radiação em vários tipos de tubos de vácuo. Röntgen usou um tubo semelhante ao de lâmpadas fluorescentes, removeu todo o ar e encheu-o com um gás especial. Quando ele passou uma corrente elétrica através dele, o tubo emitiu um brilho fluorescente. Roentgen então cobriu o tubo com papel preto e mais uma vez a luz passou. Röntgen viu a primeira imagem radiográfica do mundo, seu próprio esqueleto cintilando na tela. Uma semana depois de sua descoberta, Röntgen realizou uma radiografia da mão de sua esposa, que revelou claramente seu anel de casamento e seus ossos. Isso entusiasmou o público em geral e despertou grande interesse científico na nova forma de radiação. Röntgen a denominou de radiação X (X para "desconhecida" porque na matemática o "X" é usado para indicar um valor desconhecido). Em dezembro de 1895, publicou seu artigo com o primeiro raios-X realizado. Dentro de um ano, os raios-X estavam sendo usados no diagnóstico e na terapia em Medicina, antes que os perigos da radiação ionizante fossem descobertos. Roentgen não patenteou sua descoberta de raios-X, mas foi o destinatário do primeiro Prêmio Nobel de física em 1901. Foi finalmente reconhecido que a exposição frequente aos raios-x pode ser prejudicial nas décadas de 1920 e 1930, quando os efeitos adversos da radiação foram mostrados. Um uso inicial indiscriminado de radiação e completamente equivocado ocorreu antes que começassem a aparecer, sendo adicionado a uma ampla gama de produtos comerciais, supondo-se que os raios emitidos pelo rádio tinham um efeito "vitalizante" no corpo humano.
6- Como se deu a primeira observação do esôfago humano de uma pessoa viva e que avanço significou para a medicina? (5 a 10 linhas)
Adolf Kussmaul, um médico alemão, de Freiburg, foi o primeiro a realizar uma esofagoscopia direta. Por isso, ele é considerado um importante pioneiro da endoscopia digestiva, e cujo trabalho não só introduziu a gastroscopia como possibilidade diagnóstica, como também iniciou a mudança de abordagem, de indireta para a direta, mais segura e mais moderna. Assim, ele desenvolveu a 1ª endoscopia rígida. O procedimento em si, realizado em 1868, foi possível pela ideia perspicaz de Kussmaul de contratar os serviços de um engolidor de espadas profissional, devido à sua capacidade de formar uma linha reta da faringe com o estômago e de voluntariamente relaxar o músculo cricofaríngeo, permitindo a passagem do endoscópio. Embora Kussmaul tenha dado demonstrações de sua técnica para as sociedades médicas, ele nunca publicou sua descoberta. Foi somente através de um aluno seu que se sabe sobre seu trabalho. Embora suas esofagoscopias tenham sido infrutíferas posteriormente, as contribuições de Kussmaul foram decisivas ao trazer à luz idéias e observações importantes. O gastroscópio de Kussmaul foi repetidamente citado por pioneiros posteriores como a fonte de sua inspiração.
7- Que conferência internacional realizada nos Estados Unidos foi um marco na história da Bioética no que se refere à pesquisa baseada em engenharia genética com importante repercussão sobre biossegurança? (Citar a Conferência e sua importância para a sociedade)
7- Que conferência internacional realizada nos Estados Unidos foi um marco na história da Bioética no que se refere à pesquisa baseada em engenharia genética com importante repercussão sobre biossegurança? (Citar a Conferência e sua importância para a sociedade)
A Conferência de Asilomar, na qual 140 cientistas, médicos e legisladores se reuniram no centro de conferências de Asilomar State Beach, Califórnia, para discutir as implicações éticas da engenharia genética. Nesta Conferência, houve a interdição de pesquisas que representavam ameaças aos seres vivos e ao ambiente. A principal recomendação resultante desta conferência afirmou que no estudo de vírus humanos ou animais, bactérias utilizadas não devem ser capazes de sobreviver fora do laboratório, pela possibilidade de serem utilizadas em guerras biológicas. Essa conferência é considerada um importante marco na construção do conceito de biossegurança.
8- Mencione cinco preocupações bioéticas relacionadas com o desenvolvimento da Engenharia Genética no século XX.
1- Reducionismo genético e determinismo genético ou fatalismo genético
2- Patentes privadas
3- Discriminação de base genética
2- Patentes privadas
3- Discriminação de base genética
4- Bioterrorismo ou microterrorismo biológico
5- Modificação de seres humanos;
9- Alguns períodos históricos são mais caracterizados por grandes marcas de evolução, outros de continuidade, uns com evolução mais lenta, outros mais rápida. Os últimos 50 anos do século XX trazem impressas marcas muito fortes de evolução. Houve épocas em que as marcas de uma evolução rápida também foram intensas, mas as evoluções e revoluções da história da medicina antes do século XX eram muito mais situadas no espaço e no tempo. No século XX, as mudanças foram rápidas e profundas na vida e nas sociedades no seu todo. Que três principais razões gerais proporcionaram esse desenvolvimento rápido e avançado) no século XX?
5- Modificação de seres humanos;
9- Alguns períodos históricos são mais caracterizados por grandes marcas de evolução, outros de continuidade, uns com evolução mais lenta, outros mais rápida. Os últimos 50 anos do século XX trazem impressas marcas muito fortes de evolução. Houve épocas em que as marcas de uma evolução rápida também foram intensas, mas as evoluções e revoluções da história da medicina antes do século XX eram muito mais situadas no espaço e no tempo. No século XX, as mudanças foram rápidas e profundas na vida e nas sociedades no seu todo. Que três principais razões gerais proporcionaram esse desenvolvimento rápido e avançado) no século XX?
- O acúmulo de conhecimento que serviu de base para que as investigações e elucidações da segunda metade do século fossem confirmadas, principalmente no que se refere aos esclarecimentos das leis de Mendel, a questão do genoma e da molécula de DNA, que já estavam precedidas por teorias que fomentaram suas descobertas. Este é um dos fatores que favoreceram o grande avanço no século XX. Como sugere aquela citação de Isaac Newton: “Se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de gigantes.” O conhecimento científico é cumulativo, se acumula à medida que avança. Isso implica a ideia de que a investigação científica se baseia no trabalho que a precedeu.
- A segunda razão favorecedora do desenvolvimento biotecnológico tão espetacular no século XX foi a tecnologia. Grande parte do desenvolvimento do século XX foi tecnológico, ou, no caso, biotecnológico, que é muito mais rápida que a ciência. Computadores, biotecnologia e nanotecnologia funcionam e evoluem de uma forma veloz, são “auto-acelerados”, quer dizer, os produtos de seus próprios processos permitem desenvolver-se cada vez mais rapidamente. Novos chips de computador são imediatamente utilizados para desenvolver a próxima geração de mais poderosos; esta é a inexorável aceleração expressa como a Lei de Moore (“os processadores de computadores dobram em complexidade a cada dois anos”). A mesma dinâmica impulsiona a biotecnologia e a nanotecnologia - ainda mais porque todas essas tecnologias tendem a se acelerar umas às outras. Ciência e tecnologia se alimentam uma da outra, por assim dizer, impulsionando ambas. O conhecimento científico permite construir novas tecnologias, que muitas vezes permitem fazer novas observações científicas sobre o mundo, o que, por sua vez, permite construir ainda mais conhecimento científico, que então inspira outra tecnologia e assim por diante.
- A segunda razão favorecedora do desenvolvimento biotecnológico tão espetacular no século XX foi a tecnologia. Grande parte do desenvolvimento do século XX foi tecnológico, ou, no caso, biotecnológico, que é muito mais rápida que a ciência. Computadores, biotecnologia e nanotecnologia funcionam e evoluem de uma forma veloz, são “auto-acelerados”, quer dizer, os produtos de seus próprios processos permitem desenvolver-se cada vez mais rapidamente. Novos chips de computador são imediatamente utilizados para desenvolver a próxima geração de mais poderosos; esta é a inexorável aceleração expressa como a Lei de Moore (“os processadores de computadores dobram em complexidade a cada dois anos”). A mesma dinâmica impulsiona a biotecnologia e a nanotecnologia - ainda mais porque todas essas tecnologias tendem a se acelerar umas às outras. Ciência e tecnologia se alimentam uma da outra, por assim dizer, impulsionando ambas. O conhecimento científico permite construir novas tecnologias, que muitas vezes permitem fazer novas observações científicas sobre o mundo, o que, por sua vez, permite construir ainda mais conhecimento científico, que então inspira outra tecnologia e assim por diante.
- O terceiro é o do papel das guerras mundiais no desenvolvimento biotecnológico, este foi um terceiro fator geral que propiciou o desenvolvimento acelerado e de grande magnitude no século XX. De acordo com Edwin Starr, “a guerra é boa para absolutamente nada”, mas muitas tecnologias desenvolvidas no século XX começou como uma espécie de tecnologia militar, e também na medicina. As guerras colocam uma enorme demanda sobre os recursos de uma nação e sabe-se que guerra e tecnologia estão intimamente relacionadas. Transfusões de sangue, por exemplo, tinham sido realizadas desde antes da guerra, mas estas eram diretas de doador para receptor, pois não havia maneira de armazenar o sangue. O ultrassom derivou da atividade dos submarinos alemães, sendo usado para localizar submarinos submersos, quando a Marinha Britânica desenvolveu um aparelho para o eco subaquático usando ultrassom. A mesma tecnologia mais tarde deu origem a imagens de ultrassom médico. Também quanto ao desenvolvimento da cirurgia plástica, a I Guerra Mundial viu o surgimento da cirurgia reconstrutiva moderna.
10- O que representou o nascimento do primeiro mamífero clonado e que impacto causou na comunidade científica e na sociedade como um todo? (10 a 20 linhas)
Em 1997, o nascimento da ovelha Dolly, o primeiro mamífero clonado por transferência nuclear usando uma célula mamária de uma ovelha adulta como doadora de núcleo e um óvulo enucleado como receptor. Dolly não foi um animal qualquer, mas sim uma cópia geneticamente idêntica, que não tinha nascido de um óvulo com um espermatozoide, mas de uma célula glandular mamária de outra ovelha que já não estava viva. Este evento mostrou que é possível a clonagem em humanos, reacendendo cada vez mais discussões bioéticas a respeito das técnicas de clonagem, tanto a terapêutica quanto a reprodutiva.
Em 1997, o nascimento da ovelha Dolly, o primeiro mamífero clonado por transferência nuclear usando uma célula mamária de uma ovelha adulta como doadora de núcleo e um óvulo enucleado como receptor. Dolly não foi um animal qualquer, mas sim uma cópia geneticamente idêntica, que não tinha nascido de um óvulo com um espermatozoide, mas de uma célula glandular mamária de outra ovelha que já não estava viva. Este evento mostrou que é possível a clonagem em humanos, reacendendo cada vez mais discussões bioéticas a respeito das técnicas de clonagem, tanto a terapêutica quanto a reprodutiva.