26 de julho de 2017

Apontamentos sobre a Medicina do Antigo Egito


Na aula desta semana de História da Medicina abordaram-se os  primórdios das práticas de medicina na Antiguidade, começando-se pela antiga medicina egípcia. Este resumo refere-se à primeira parte da discussão sobre História da Medicina na Antiguidade.
As questões condutoras da discussão inicial foram as seguintes: Em que civilizações do Mundo Antigo há os primeiros vestígios históricos da prática de medicina? Qual a primeira civilização da Antiguidade a registrar exercício de medicina? Como foram as primeiras práticas médicas nas civilizações da Antiguidade?
Igor situou no Egito Antigo a civilização onde houve os primeiros registros de práticas médicas,  que eram de natureza mágico-religiosa, porém mencionou que também há relatos de que houve mudança para uma prática mais empírica, com o uso de ervas. Realmente, considera-se que as raízes da medicina ocidental começaram no antigo Egito cerca de 5000 anos atrás. A medicina egípcia era uma mistura de magia, observação e conhecimento empírico.
Jefferson mencionou a prática de mumificação dos mortos, o que teve grande impacto na quantidade de conhecimento que os egípcios tinham do corpo. A mumificação era feita principalmente para pessoas ricas, pois os camponeses e escravos não podiam pagar o processo.
Igor citou os papiros  egípcios como registros primitivos da medicina praticada naquela civilização antiga, aludindo ao fato de que a primeira civilização conhecida por ter realizado um extenso registro de práticas médicas e deixar registros escritos de suas práticas e procedimentos foi a do antigo Egito. Realmente, nosso conhecimento da medicina egípcia é derivado principalmente de papiros ​​que abordam especificamente esse assunto. São coleções heterogêneas, cheias de encantamentos, fórmulas mágicas, símbolos, orações e prescrições para todos os tipos de doenças. É impressionante a riqueza da farmacopeia e o alto grau de desenvolvimento que a arte da farmácia parece ter alcançado no antigo Egito. Há registros de bálsamos, inalações, supositórios, fumigações, enemas, cataplasmas e emplastros. Eles conheciam o uso de ópio, cicuta, sais de cobre e óleo de rícino. A cirurgia não foi muito desenvolvida, mas a faca e o cautério eram usados. A cirurgia oftalmológica foi praticada por especialistas em olhos, e há muitas prescrições nos papiros.
Sabe-se agora que a medicina egípcia contribuiu significativamente para a medicina moderna. Muitas terapias usadas hoje são relativamente semelhantes às usadas nos tempos egípcios antigos, como o método de tratamento de fraturas ósseas.
Por outro lado, lembrei que a magia era tão relevante naquela civilização antiga que os amuletos de cura desempenhavam um papel importante nos tratamentos, especialmente o chamado “Olho de Horus”, associado à proteção e força. Desde então, o olho de Horus tornou-se um poderoso amuleto de cura ao longo do tempo, e a até hoje o símbolo que está no topo dos receituários  tem a forma do olho de Horus. Portanto, havia a prática de uma medicina mágico-religiosa, que era predominante, mas também se praticava de forma rudimentar tratamentos que pareciam mais com exercícios empírico-racionais da medicina.
Complementei com a informação de que os textos médicos egípcios existentes mais antigos são seis papiros do período entre 2000 a.C. e 1500 a.C, sendo três os mais conhecidos: o Papiro ginecológico de Kahun, o Papiro Cirúrgico Edwin Smith e o Papiro Médico de Ebers, descobertos por pesquisadores no século XIX. A maior parte desses textos são baseados em textos mais antigos que datam possivelmente de 3000 a.C, sendo registros relativamente isentos da abordagem mágica no tratamento da doença.
A medicina egípcia influenciou o uso de remédios em culturas vizinhas, incluindo a cultura da Grécia antiga, de onde se espalhou, chegando à civilização ocidental. Os registros contidos nos papiros mostraram que nem toda a medicina egípcia se baseou em magia e religião, mas se baseou também na observação e no uso de empírico de ervas, que complementavam os rituais mágico-religiosos.
A medicina egípcia antiga é considerada altamente avançada para seu tempo.
Duas características da medicina egípcia da Antiguidade que não foram mencionadas pelos alunos foram a extensa farmacopeia criada naquela civilização e a tendência à especialização entre os médicos, que cuidavam especificamente de determinadas áreas do corpo humano, o que difere da tendência apontada no decorrer da história dos mais diferentes povos. Assim, no antigo Egito, a maioria dos médicos era especialista: alguns eram especialistas em olhos, outros em cabeça, outros em dentes, outros em intestinos, outros em distúrbios internos. Algumas doenças foram tratadas com fármacos listados nos papiros médicos, mas os medicamentos usados eram de eficácia duvidosa. Cerca de 2000 remédios registrados nos papiros médicos fornecem detalhes dos ingredientes, método de preparação, dose e via de administração.
Os tratamentos prescritos geralmente combinavam alguma aplicação prática de medicamentos com um feitiço para torná-los mais efetivos. Portanto, os problemas de saúde eram tratados por meio de magia e de medicina, muitas vezes em combinação. Contudo, hoje se considera que uma das suas maiores realizações dos antigos egípcios foi no campo da medicina porque foram eles que começaram a mesclar o mito com o fato médico, estabelecendo as bases para a prática médica moderna no Ocidente.
Havia três tipos de “médicos” no Antigo Egito: Sunus, nomeados pelo estado, e atendiam a todos os cidadãos, e alguns destes médicos eram escribas e podiam ler textos médicos, mas não era um requisito para o seu ofício; os médicos mágicos, chamados de “sau”, realizavam rituais mágicos; e os “Sacerdotes de Sekhmet”, que eram uma combinação de médico sunu e de médico mágico - curaram as pessoas que Sekhmet puniu com a doença. Os sacerdotes-médicos eram classificados como o mais alto nível entre os médicos porque praticavam uma combinação de medicina clínica e espiritual, e se supões eles fossem parte da hierarquia egípcia e envolvidos com o atendimento médico dos faraós e altos oficiais de Estado. Nesse sentido, Rômulo questionou se os tratamentos mais racionais eram destinados apenas aos sacerdotes ou também aos camponeses e escravos. Esses sacerdotes não recebiam treinamento médico, mas os considerados verdadeiros médicos, chamados de "sunus", recebiam instruções em locais chamados de Per Ankh ("casas da vida"), onde se adquiriam conhecimentos de medicina, matemática e geometria. Conforme já mencionado, esses médicos do antigo Egito foram considerados os melhores do seu tempo e frequentemente são citados por médicos de épocas posteriores, em outras civilizações, como os da própria civilização grega.
A prática médica no antigo Egito foi tão avançada para aquela época que muitos dos seus procedimentos foram usados durante séculos após a queda de Roma e muitas de suas práticas foram empregadas na medicina grega e romana.
Embora não haja dúvidas de que muitos outros textos disponíveis no antigo Egito não tenham sobrevivido, os poucos papiros descobertos fornecem informações sobre como os egípcios viram as doenças e o que eles acreditavam aliviar os sintomas de um paciente ou levar à cura. É possível, como sugeriram vários estudiosos, que o sucesso do médico egípcio simbolizasse o poder do efeito placebo: as pessoas acreditavam que suas prescrições funcionariam, e assim o poder da sugestão poderia atuar nas pessoas que eram submetidas aos tratamentos daquela época.
O “primeiro médico”, mais tarde deidificado como deus da medicina e da cura, foi o arquiteto Imhotep (2667-2600 a.C), mais conhecido por projetar pirâmides. Imhotep também é lembrado por iniciar a prática da medicina, argumentando que a doença ocorria naturalmente e não apenas como uma forma de punição dos deuses.
Maria Luíza então questionou se a medicina no antigo Egito foi misturada com a magia. Acreditava-se que as doenças eram enviadas pelos deuses como um castigo, ou por espíritos malignos que invadiam os corpos e tinham que ser expulsos. Este era um pensamento mágico-religioso, que se associava à prática de muitos rituais, feitiços e encantos de todos os tipos. Contudo, estas práticas eram misturadas com uma prática da Medicina que continha também aspectos racionais. Os primeiros médicos eram sacerdotes especializados em intermediar ações contra a deusa das doenças, chamada Sekmet.
Vitor lembrou do uso de alho e cebola para tratamento de doenças no Antigo Egito. Realmente, já na Grécia Antiga, o historiador Heródoto registrou que os construtores das pirâmides recebiam enormes quantidades  de alho e cebola, que atualmente são reconhecidos como alimentos com propriedades medicinais. A dieta da maior parte da população era composta principalmente por vegetais, e a carne era reservada para os sumos sacerdotes e suas famílias.
O restante da aula foi expositiva em virtude do tempo reduzido para finalizar o conteúdo programado, com a abordagem da medicina na Mesopotâmia e na Grécia Antiga nos períodos homérico e  arcaico, que foram práticas  de curar de natureza mágico-religiosa, destacando-se a figura de Asclépio e dos templos de cura, os asclepiones.