É
muito importante que nos habituemos a observar a comunicação não-verbal
dos pacientes. A expressão corporal e as microexpressões faciais podem contradizer
a mensagem da comunicação verbal. Quando as duas são inconsistentes, é preciso
se deter naquele aspecto contraditório. Os padrões de fala, a hesitação vocal,
também são aspectos a valorizar.
A
comunicação não-verbal ajuda a construir o relacionamento médico-paciente,
fornece pistas para preocupações e emoções subjacentes não ditas e ajuda a
reforçar ou contrariar nossos comentários verbais (SILVERMAN; KINNERSLEY,
2010).
Claro
que não é tão fácil adquirir este hábito de observar. A comunicação verbal em
consultas médicas é geralmente mais fácil de interpretar e analisar. Mas está
sob controle voluntário e comunica os pensamentos cognitivos mais do que nossas
emoções. Em contraste, a comunicação não-verbal é menos fácil de interpretar: é
contínua, ocorre mesmo em silêncio, pode ocorrer de vários modos ao mesmo
tempo, opera em um nível menos consciente, filtra pistas espontâneas, e é o
canal por onde se dá a comunicação de atitudes e emoções.
Além
do comportamento não-verbal dos pacientes, o dos médicos também é importante.
Como médicos, precisamos estar igualmente conscientes da nossa comunicação não
verbal. Imagine se nas relações interpessoais cotidianas na nossa interação
pessoal podemos perceber claramente quando alguém nos antagoniza ou até
hostiliza, imagine o paciente, em situação de vulnerabilidade? Já se sabe que a
maneira como o médico se comporta de forma não verbal afeta os resultados do paciente,
e também sua satisfação. Já se sabe que o comportamento não-verbal afetivo (por
exemplo, o olhar no olho, a proximidade, a expressão facial) do médico está
relacionado à maior satisfação do paciente.
Segundo
Mast (2007), o treinamento do médico poderia ganhar muito com a incorporação de
conhecimentos sobre o comportamento não verbal, tanto do médico quanto do
paciente.
Referências
Silverman
J, Kinnersley P. Doctors'non-verbal behaviour in consultations: look at the
patient before you look at the computer. Br J Gen Pract. 2010;60(571):76-8.
Mast
MS. On the importance of nonverbal communication in the physician-patient
interaction. Patient Educ Couns. 2007;67(3):315-8.