9 de dezembro de 2018

Cuidados Paliativos: Uma Nova e Promissora Especialidade

                                                            Por Rilva Lopes de Sousa-Muñoz

A especialidade de medicina paliativa é relativamente nova, tendo recebido reconhecimento do Conselho Americano de Especialidades Médicas e do Conselho de Acreditação em Educação Médica de Pós-Graduação em 2006. Esse reconhecimento refletiu uma solução para a necessidade crescente de atenção por indivíduos com doenças crônicas graves, sem perspectiva de cura e enfermidades terminais (1).
No Brasil, a Medicina Paliativa foi considerada uma nova área de atuação médica, ou uma nova especialidade, pela Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) 1973/2011, em agosto do ano passado. A referida Resolução do CFM associa a área de medicina paliativa às especialidades de clínica médica, oncologia, geriatria, medicina de família e comunidade, pediatria e anestesiologia (2). Atualmente, a denominação Medicina Paliativa difere um pouco do termo Cuidados Paliativos, uma vez que este inclui a participação de diversas outras profissões, não se restringindo apenas à área médica (3,4).
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a atenção em Cuidados Paliativos significa o cuidado ativo e integral aos pacientes cuja enfermidade não responde mais aos tratamentos curativos (5). Os cuidados ao fim da vida passam a ser vistos como uma questão de saúde pública, pela necessidade fundamental e imperiosa de se aliviar o sofrimento de quem quer que esteja acometido de uma doença avançada. O grande ensinamento da Medicina Paliativa é que há um limite para a cura, mas não para os cuidados.
No Brasil, a prática de Cuidados Paliativos iniciou-se em 1997, período em que foi fundada a Academia Brasileira de Cuidados Paliativos (ABCP). Mais recentemente, em 2005, foi fundada a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), agregando os profissionais da saúde que praticam essa filosofia de cuidado, e também promovendo eventos que divulgam os cuidados paliativos para profissionais da saúde e leigos. O Sistema Único de Saúde - SUS, através de algumas ações, vem estimulando as práticas de Cuidados Paliativos.
A despeito da relevância dessa área, a prática dos Cuidados Paliativos é uma modalidade de assistência ainda pouco difundida. Contudo, no Brasil ainda são poucos os serviços de Cuidados Paliativos, não havendo ainda uma atenção sistematizada. No país, a filosofia dos cuidados paliativos sempre foi exercida, mas como atualmente o número de pessoas com doenças crônico-evolutivas é cada vez maior, sobretudo idosos com doença em fase avançada, torna-se crucial a preparação de profissionais e serviços de saúde para essa realidade.A fase paliativa dos cuidados é vista atualmente pelos especialistas da área como um continuum da atenção médica, que começa com o diagnóstico de uma condição com risco de vida em que se espera que resulte em morte em um certo  espaço de tempo. Os cuidados paliativos devem começar no início desse continuum. Assim, o conceito mais recente de Cuidados Paliativos (CP) abrange uma atenção aplicada desde os estágios iniciais de uma doença progressiva, crônica e provavelmente fatal. Além disso, as necessidades espirituais e emocionais passaram a ocupar destaque, devendo ser abordadas em conjunto, para que o paciente seja devidamente reconfortado, assim como sua família (5).
Os cuidados paliativos cobrem uma vasta área, que inclui o alívio da dor, mas também a prevenção e alívio de outros sintomas possíveis, tais como úlceras de pressão, dificuldades respiratórias, constipação, incontinência urinária, problemas neurológicos, depressão, ansiedade e distúrbios metabólicos, assim como a integração de aspectos psicológicos e espirituais dos cuidados do paciente.
Nos Estados Unidos, a grande maioria (83%) dos médicos egressos de pós-graduação em cuidados paliativos está prestando serviços de atendimento direto ao paciente, e a maioria trabalha em hospitais ou grupos afiliados a hospitais (68%), apenas 9% estão trabalhando diretamente em serviços especializados em CP (1). Segundo este último estudo referido, o mercado de trabalho parece geralmente bom para os graduados, embora 29% tenham relatado alguma dificuldade em encontrar uma posição satisfatória, principalmente relacionada à falta de empregos nos locais desejados. O trabalho nacional mercado parece muito forte. Os empregos parecem mais abundantes em cuidados paliativos hospitalares e geriátricos.
Embora os cuidados paliativos sejam fundamentais para manejo de sintomas, dor e cuidados no final da vida entre aqueles que enfrentam doenças graves ou crônicas, são frequentemente subutilizados, o que pode estar relacionado ao estigma associado aos cuidados paliativos, que possui a representação social de uma desistência de combate à doença (7).
Há necessidade de programas de educação continuada para os médicos sobre Cuidados Paliativos e também nos cursos de graduação em Medicina para que esse tipo de assistência possa tornar-se parte integrante do ensino de pós-graduação e mesmo depois deste.
Foi iniciado neste ano o Curso de Especialização em Cuidados Paliativos no Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW/UFPB) e do qual participarei ministrando a disciplina de Cuidados Paliativos em Doenças Progressivas e Irreversíveis. O curso está sendo coordenado pela Gerência de Ensino e Pesquisa do HULW/UFPB e do Instituto de Envelhecimento da Paraíba, em parceria com o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Bioética e Cuidados Paliativos do Centro de Ciências da Saúde da UFPB.

REFERÊNCIAS
1- QUIGLEY, M. P. H.; SALSBERG, E.; LUPU, F. D. A Profile of New Hospice and Palliative Medicine Physicians Results from the Survey of Hospice and Palliative Medicine Fellows Who Completed Training in 2016. Disponível em: http://aahpm.org/uploads/Profile_of_New_HPM_Physicians_2016_January_2017.pdf. Acesso em: 09 dez. 2018.
2- SOUSA-MUÑOZ, R. L. Medicina paliativa: uma nova área de atuação médica no Brasil. Disponível em:  http://www.drteuto.com.br/blog/2012/04/03/medicina-paliativa-uma-nova-area-de-atuacao-medica-no-brasil. Acesso em: 09 dez. 2018.
3- PESSINI, L.; BERTACHINI, L. Novas perspectivas em cuidados paliativos: ética, geriatria, gerontologia, comunicação e espiritualidade. O Mundo da Saúde - São Paulo, 29 (4): 491-509, 2005
4- BRANDÃO, C. Câncer e Cuidados Paliativos : Definições. Rev. Prática Hospitalar, 11 (66), 2009. Disponível em: http://www.praticahospitalar.com.br/pratica%2042/pgs/materia%2009-42.html. Acesso em: 08 dez. 2018.
5- WORLD HEALTH ORGANIZATION. National cancer control programmes: policies and managerial guidelines, 2nd ed. Geneva: World Health Organization, 2002
6- SEPÚLVEDA, C.; MARLIN, A.; YOSHIDA, T.; ULLRICH, A. Palliative Care: The World Health Organization’s Global Perspective. Journal of Pain and Symptom Management. 24 (2): 91-96, 2002.
7- SHEN, M. J.; WELLMAN, J. D. Evidence of palliative care stigma: The role of negative stereotypes in preventing willingness to use palliative care. Palliat Support Care. 6:1-7, 2018.

Ilustração de Ernie Eldredge - https://www.uab.edu