Por Rilva Lopes de Sousa-Muñoz
A especialidade de
medicina paliativa é relativamente nova, tendo recebido reconhecimento do Conselho
Americano de Especialidades Médicas e do Conselho de Acreditação em Educação
Médica de Pós-Graduação em 2006. Esse reconhecimento refletiu uma solução para a necessidade
crescente de atenção por indivíduos com doenças crônicas graves, sem perspectiva de cura e enfermidades terminais (1).
No Brasil, a
Medicina Paliativa foi considerada uma nova área de atuação médica, ou uma nova
especialidade, pela Resolução do Conselho Federal de
Medicina (CFM) 1973/2011, em agosto do ano passado. A referida Resolução do CFM
associa a área de medicina paliativa às especialidades de clínica médica,
oncologia, geriatria, medicina de família e comunidade, pediatria e
anestesiologia (2). Atualmente, a denominação Medicina Paliativa difere um
pouco do termo Cuidados Paliativos, uma vez que este inclui a participação de
diversas outras profissões, não se restringindo apenas à área médica (3,4).
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a
atenção em Cuidados Paliativos significa o cuidado ativo e integral aos
pacientes cuja enfermidade não responde mais aos tratamentos curativos (5). Os cuidados ao fim da vida
passam a ser vistos como uma questão de saúde pública, pela necessidade
fundamental e imperiosa de se aliviar o sofrimento de quem quer que esteja
acometido de uma doença avançada. O grande ensinamento da Medicina Paliativa é
que há um limite para a cura, mas não para os cuidados.
No
Brasil, a prática de Cuidados Paliativos iniciou-se em 1997, período em que foi
fundada a Academia Brasileira de Cuidados Paliativos (ABCP). Mais recentemente,
em 2005, foi fundada a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP),
agregando os profissionais da saúde que praticam essa filosofia de cuidado, e
também promovendo eventos que divulgam os cuidados paliativos para
profissionais da saúde e leigos. O Sistema Único de Saúde - SUS, através de algumas ações, vem estimulando
as práticas de Cuidados Paliativos.
A
despeito da relevância dessa área, a prática dos Cuidados Paliativos é uma
modalidade de assistência ainda pouco difundida. Contudo, no Brasil ainda são poucos os serviços
de Cuidados Paliativos, não havendo ainda uma atenção sistematizada. No país, a
filosofia dos cuidados paliativos sempre foi exercida, mas como atualmente o
número de pessoas com doenças crônico-evolutivas é cada vez maior, sobretudo
idosos com doença em fase avançada, torna-se crucial a preparação de
profissionais e serviços de saúde para essa realidade.A fase paliativa dos
cuidados é vista atualmente pelos especialistas da área como um continuum
da atenção médica, que começa com o diagnóstico de uma condição com risco de
vida em que se espera que resulte em morte em um certo espaço de tempo. Os cuidados paliativos devem
começar no início desse continuum. Assim, o conceito mais recente de
Cuidados Paliativos (CP) abrange uma atenção aplicada desde os estágios
iniciais de uma doença progressiva, crônica e provavelmente fatal. Além disso,
as necessidades espirituais e emocionais passaram a ocupar destaque, devendo
ser abordadas em conjunto, para que o paciente seja devidamente reconfortado,
assim como sua família (5).
Os cuidados
paliativos cobrem uma vasta área, que inclui o alívio da dor, mas também a
prevenção e alívio de outros sintomas possíveis, tais como úlceras de pressão,
dificuldades respiratórias, constipação, incontinência urinária, problemas
neurológicos, depressão, ansiedade e distúrbios metabólicos, assim como a
integração de aspectos psicológicos e espirituais dos cuidados do
paciente.
Nos
Estados Unidos, a grande maioria (83%) dos médicos egressos de pós-graduação em
cuidados paliativos está prestando serviços de atendimento direto ao paciente,
e a maioria trabalha em hospitais ou grupos afiliados a hospitais (68%), apenas
9% estão trabalhando diretamente em serviços especializados em CP (1). Segundo
este último estudo referido, o mercado de trabalho parece geralmente bom para
os graduados, embora 29% tenham relatado alguma dificuldade em encontrar uma
posição satisfatória, principalmente relacionada à falta de empregos nos locais
desejados. O trabalho nacional mercado parece muito forte. Os empregos parecem
mais abundantes em cuidados paliativos hospitalares e geriátricos.
Embora
os cuidados paliativos sejam fundamentais para manejo de sintomas, dor e cuidados
no final da vida entre aqueles que enfrentam doenças graves ou crônicas, são
frequentemente subutilizados, o que pode estar relacionado ao estigma associado
aos cuidados paliativos, que possui a representação social de uma desistência
de combate à doença (7).
Há necessidade de programas de educação
continuada para os médicos sobre Cuidados Paliativos e também nos cursos de
graduação em Medicina para que esse tipo de assistência possa tornar-se parte
integrante do ensino de pós-graduação e mesmo depois deste.
Foi iniciado neste ano o Curso de
Especialização em Cuidados Paliativos no Hospital Universitário Lauro Wanderley
(HULW/UFPB) e do qual participarei ministrando a disciplina de Cuidados
Paliativos em Doenças Progressivas e Irreversíveis. O curso está sendo coordenado
pela Gerência de Ensino e Pesquisa do HULW/UFPB e do Instituto de
Envelhecimento da Paraíba, em parceria com o Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Bioética e Cuidados Paliativos do Centro de Ciências da Saúde da UFPB.
REFERÊNCIAS
1- QUIGLEY, M. P. H.; SALSBERG, E.;
LUPU, F. D. A Profile of New Hospice and Palliative Medicine Physicians Results
from the Survey of Hospice and Palliative Medicine Fellows Who Completed
Training in 2016. Disponível em:
http://aahpm.org/uploads/Profile_of_New_HPM_Physicians_2016_January_2017.pdf.
Acesso em: 09 dez. 2018.
2- SOUSA-MUÑOZ, R. L. Medicina
paliativa: uma nova área de atuação médica no Brasil. Disponível em:
http://www.drteuto.com.br/blog/2012/04/03/medicina-paliativa-uma-nova-area-de-atuacao-medica-no-brasil.
Acesso em: 09 dez. 2018.
3- PESSINI, L.; BERTACHINI, L.
Novas perspectivas em cuidados paliativos: ética, geriatria, gerontologia,
comunicação e espiritualidade. O Mundo
da Saúde - São Paulo, 29 (4): 491-509, 2005
4- BRANDÃO, C. Câncer e Cuidados
Paliativos : Definições. Rev. Prática
Hospitalar, 11 (66), 2009. Disponível em: http://www.praticahospitalar.com.br/pratica%2042/pgs/materia%2009-42.html.
Acesso em: 08 dez. 2018.
5- WORLD HEALTH ORGANIZATION. National cancer control programmes: policies and managerial
guidelines, 2nd ed. Geneva: World Health Organization, 2002
6- SEPÚLVEDA, C.; MARLIN, A.; YOSHIDA, T.; ULLRICH, A. Palliative Care: The
World Health Organization’s Global Perspective. Journal of Pain and Symptom Management. 24 (2): 91-96, 2002.
7- SHEN,
M. J.; WELLMAN, J. D. Evidence of palliative care stigma: The
role of negative stereotypes in preventing willingness to use palliative care. Palliat Support Care. 6:1-7, 2018.
Ilustração
de Ernie Eldredge - https://www.uab.edu