Por Breno Coelho Batista Cavalcante Nogueira
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB
A graduação em medicina constitui uma jornada longa, extenuante e que requer preparo físico e psicológico por parte dos graduandos para que seja bem-sucedida.
O
Ministério da Educação define uma carga horária mínima para os cursos de
graduação em Medicina de 7.200 horas, sendo o curso de graduação com a maior
carga horária no Brasil, que é considerada excessiva (GONZAGA et al., 2014)
Na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) não é díspar desta realidade. É possível deparar-se diariamente com discentes queixando-se da carga horária extensiva, da quantidade excessiva de aulas e provas, algo que muitas vezes não é suficientemente considerado pelos pelo corpo docente e gestores acadêmicos. Nesse contexto, a reforma curricular nos cursos de Medicina é bastante discutida e visa a encontrar maneiras de promover a formação de um profissional humanizado (PAIVA et al., 2018), além de buscar aprimorar o equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal de cada estudante.
Na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) não é díspar desta realidade. É possível deparar-se diariamente com discentes queixando-se da carga horária extensiva, da quantidade excessiva de aulas e provas, algo que muitas vezes não é suficientemente considerado pelos pelo corpo docente e gestores acadêmicos. Nesse contexto, a reforma curricular nos cursos de Medicina é bastante discutida e visa a encontrar maneiras de promover a formação de um profissional humanizado (PAIVA et al., 2018), além de buscar aprimorar o equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal de cada estudante.
O curso de medicina da UFPB conta com
uma carga horária de 9.440 horas letivas. Esse número é alto se comparado com a
carga horária de outros cursos como odontologia, psicologia e medicina veterinária,
todos com carga horária mínima de 4000 horas-aula. O tempo de formação
prolongado no curso de Medicina pode ser desgastante para o próprio estudante (MAGALHÃES
et al., 2017), tanto no aspecto físico, como no psicológico. Em virtude disso,
para muitos essa rotina de aulas e provas representa a causa da abdicação de
outros afazeres (por vezes, atividades básicas e necessárias como alimentação e
sono) em vista da necessidade de acompanhamento dos assuntos lecionados e da
preparação para os testes, o que pode representar um impacto negativo na saúde
mental do discente. Estima-se que de 15% a 25% dos estudantes universitários
apresentam algum tipo de transtorno psiquiátrico durante a sua formação acadêmica,
sobretudo transtornos depressivos e de ansiedade (COUTO et al., 2014).
Ademais, ao escolherem a carreira
médica, muitos estudantes são movidos pelo desejo de curar, ajudar ou salvar.
Entretanto, o aprendizado centrado no diagnóstico e tratamento de doenças pode
levar o médico em formação a negligenciar aspectos da subjetividade do paciente
(PAIVA et al., 2018). Por outro lado, como uma forma de se “proteger” do
sofrimento do paciente, muitos estudantes optam por apartar-se de sua subjetividade,
em especial, da dimensão afetiva. Esse conjunto de fatores corrobora para um
enfraquecimento gradual da relação com os pacientes, muito embora seja
paradoxal um declínio dessa habilidade com a progressão do curso. Ainda que o
tema da humanização em saúde seja extremamente complexo e decorrente de
múltiplos fatores, um enfoque puramente tecnicista e as influências do
currículo oculto podem colaborar para um processo de desumanização ainda na
fase de graduação (BENEDETTO; GALLIAN, 2018). Em 2015, o curso de medicina da Universidade de São Paulo sofreu uma redução de 30% no número de disciplinas, que passaram a ser ofertadas de forma mais integrada e buscando melhorar os aspectos humanísticos (VASCONCELOS et al., 2015).
Em suma, é de vital importância que
esse tema seja discutido dentro e fora das salas de aula, com diretores,
docentes e com os próprios discentes a fim de se buscarem alternativas para o
problema. Dessa forma, com o
tempo restante, os discentes podem engajar-se em projetos de extensão,
pesquisa, participar de forma mais frequente de eventos científicos, além de
poder destinar mais tempo à sua vida pessoal. Talvez esse seja também um
aspecto para melhorar o caminho a ser trilhado pelo estudante de graduação em
Medicina.
Referências
COSTA, G. P.; HERCULANO, T. B.; GAMA, A. L. H. et al. Enfrentamentos do Estudante na Iniciação da Semiologia Médica. Revista Brasileira de Educação Médica, Brasília, 42 (2): 79-88, 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022018000200079&lang=pt. Acesso em 20 set. 2018.
BENEDETTO, M. A. C.; GALLIAN, D. M. C. Narrativas de estudantes de Medicina e Enfermagem: currículo oculto e desumanização em saúde. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, 22 (67): 1197-1207; 2018. Disponível em: http:// scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832018005007104&lang=pt. Acesso em 18 set. 2018.
VASCONCELOS, T. C.; DIAS, B. R. T.; ANDRADE, L. R. et al. Prevalência de Sintomas de Ansiedade e Depressão em Estudantes de Medicina. Revista Brasileira de Educação Médica, Brasília, 39 (1): 135-142, 2015. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbem/v39n1/1981-5271-rbem-39-1-0135.pdf. Acesso em 17 set. 2018.
MAGALHÃES, P.; GOMES, G. B.; NICOLAU, S. N. Tempo de Graduação em Medicina: uma Estimativa em 15 Coortes de Graduados na Universidade Agostinho Neto, Angola. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, 41 (4): 615-622, 2017. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022017000400615&lang=pt. Acesso em 18 set. 2018.
GONZAGA, H. N. KORMANN, S. O. A carga horária excessiva do curso de graduação em Medicina e sua repercussão na Saúde Mental do estudante. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, Florianópolis, 6 (13): 156, 2013. Disponível em http://stat.cbsm.incubadora.ufsc.br/index.php/cbsm/article/view/2994. Acesso em 15 set. 2018.
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