Esta figura representa o resultado de um brainstorming como
estratégia de ensino para gerar ideias sobre o tópico "História da Loucura", no
módulo de História da Medicina e da Bioética, no terceiro período da graduação em
medicina da Universidade Federal da Paraíba. Foi uma estratégia que ajudou a
promover habilidades de pensamento, em que os alunos foram solicitados a pensar
em aspectos descritivos ou explicativos referentes à história da loucura desde a
antiguidade até a pós-modernidade.
Esse exercício que tentei na atividade didática de ontem foi apenas uma maneira de debater, estimulando os alunos a pensar mais ampla e espontaneamente. Não foi uma sessão de ensino planejada, mas foi importante saber o que os eles estavam entendendo sobre a temática proposta. Portanto, o brainstorming foi uma boa maneira de ajudar os alunos a pensar sobre o tópico proposto e compartilhar suas ideias a partir de uma pergunta norteadora, incluindo períodos históricos amplos.
Esse exercício que tentei na atividade didática de ontem foi apenas uma maneira de debater, estimulando os alunos a pensar mais ampla e espontaneamente. Não foi uma sessão de ensino planejada, mas foi importante saber o que os eles estavam entendendo sobre a temática proposta. Portanto, o brainstorming foi uma boa maneira de ajudar os alunos a pensar sobre o tópico proposto e compartilhar suas ideias a partir de uma pergunta norteadora, incluindo períodos históricos amplos.
A reflexão sobre o passado de muitas disciplinas
médicas foi prática de médicos em exercício em uma época distante com
objetivos talvez diferentes dos atuais, das histórias especializadas, como a da
psiquiatria. A
psiquiatria, como disciplina da medicina, é um projeto essencialmente
modernista. No entanto, nas ciências humanas e sociais, há um crescente
consenso pós-moderno de que o modernismo foi um projeto falho. A psiquiatria nasceu em um momento falho? Pode-se dizer que a psiquiatria, a mais próxima das especialidades médicas em relação
às ciências humanas e sociais, foi uma das primeiras áreas a se defrontar com a
teoria pós-moderna.
O processo de construção da loucura como doença
mental é um tópico instigante; sondar suas implicações no que se refere à
formulação e à implantação de novos mecanismos de controle social na sociedade,
mediante a criação de instituições asilares e a ampliação das possibilidades de
reclusão de um progressivo número de pessoas que receberam o diagnóstico de
doentes mentais é explorar os significados, significantes e referentes da
crescente abrangência das fronteiras da chamada ‘anormalidade’. Quanto a isso,
alguns estudos especificamente dedicados ao tema da loucura deram o norte
teórico e metodológico da pesquisa, entre os quais destaca-se, em primeiro
lugar, a obra clássica de Michel Foucault, bem como os trabalhos desenvolvidos
por alguns estudiosos do tema nas trilhas das reflexões do próprio Foucault. Um
dos estudos centrais da interação entre insanidade e as visões culturais
ocidentais a obra “História da Loucura na Idade Clássica”, publicada pela
primeira vez em 1961. Foucault discute a história da loucura através do
Iluminismo, um momento em que ele mostra que o louco é transformado na
sociedade moderna no doente mental. Assim, a mudança na concepção de loucura n
civilização ocidental é uma tema central na história da Psiquiatria.
O conhecimento em geral, e a prática psiquiátrica
em particular, não podem ser entendidos isoladamente de outras instituições de
coerção e disciplina. É uma divisão
em preto e branco de médicos "ruins" e de pacientes "bons"
ou o exercício médico do poder como necessariamente "ruim" e a
resistência a ele como necessariamente "boa". Reduz-se o passado
da história social da psiquiatria em “oprimidos” e “opressores” que emanavam de
sua própria prática e posição institucional.
Historicamente, o louco nem sempre fora tratado
como pessoa “perigosa”, cujo comportamento fosse sentido como ameaça, física ou
moral, e cujo tratamento recebido devesse ser semelhante ao que a sociedade
ocidental faz com a delinquência. O próprio Foucault, em outra de suas obras,
“O Nascimento da Clínica”, revela como o tratamento dado ao doente mental foi
se modificando ao longo do tempo, passando de uma licenciosidade e mesmo
acolhimento na maioria dos casos, para uma total intolerância, mesmo em casos
que não oferecem perigo algum para o corpo social. Segundo Foucault, o
confinamento e as práticas mais invasivas e violentas contra o paciente
considerado louco constituem um saber especializado a partir do século XVII e
vão se desenvolvendo até atingir o ápice no final do século XVIII, formando
então um conjunto de práticas médicas “aceitáveis” ainda que infligindo dor,
sofrimento e temor ao paciente.
A visão da medicina e da sociedade sobre pacientes
mentais evoluiu muito nos últimos anos. Mas uma pergunta continua sem resposta:
qual é a linha que separa a lucidez da loucura, o normal do patológico? José
Manuel de Sacadura Rocha destaca, em seu artigo “doença mental e controle
social: uma releitura a partir de Michel Foucault”, que os conhecimentos, a
partir de meados do século XVII, adquirem o status de
“científicos”. Com a palavra “desrazão”, Foucault destaca que na Antiguidade, a
loucura está presente no horizonte social como um fato estético ou cotidiano,
mas depois, na Idade Média, o louco passou a ser excluído, expulso das cidades,
enquanto no século XVII – a partir do fenômeno da “grande internação” – a
loucura atravessou um período de silêncio, de exclusão. Nessa linha do tempo, a
loucura mostra-se como um objeto social e historicamente constituído. Ao longo
de sua obra, Foucault deixa claro que a loucura não é um objeto natural,
existente desde a aurora dos tempos e esperando para ser entendido pelo homem,
mas uma criação do próprio homem. Isso se deu, segundo ele, a partir de
tecnologias dos saberes sobre esse corpo específico, a partir de múltiplas
transformações no modo de se ver a figura do louco.
Na “História da Loucura”, de Foucault, portanto,
coloca-se a questão de como a loucura e as próprias visões e representações
sociais do fenômeno mudaram, não apenas com o advento da psiquiatria e da
psicanálise, mas também com o crescente conhecimento em todo o século XX.
O materialismo, o existencialismo e a globalização, e não apenas a Razão
da Modernidade, influenciaram a maneira pela se lidou com o irracional.
Foucault, no entanto, escolheu Descartes para integrar a estrutura da exclusão
que o louco sofreu na Idade Moderna. Descartes inaugurou a filosofia moderna,
embora o pensamento cartesiano não tenha dado à loucura o estatuto atribuído
por Foucault na modernidade, ou mesmo tenha tido uma relação direta com a
fundação do Hospital Geral, com o movimento da “Grande Internação” ou mesmo com
a libertação dos loucos acorrentados no século seguinte.
Essa
interpretação está nas mudanças que ocorreram entre a modernidade e a
pós-modernidade. "Pós-moderno" é o termo usado pela maioria dos
cientistas sociais. A denominação “moderna” ou “pós-moderna” traduz-se em
uma nova postura (de pensamento, de sensibilidade, de valores sociais) que
adquire o status de nova era, nova temporalidade. A modernidade, como um mundo
de ideias, representações, modelos e valores, é inseparável do espírito do
Iluminismo. Desde o início do século XX até hoje, muitos sociólogos se
concentraram em esclarecer o conteúdo desse conceito, bem como os conceitos
relacionados de pós-modernidade e hipermodernidade. O termo “pós-modernidade”
refere-se literalmente ao período após a modernidade, no qual a sociedade saiu
de sua era pós-industrial para o próximo estágio de desenvolvimento, trazendo
novas condições e fenômenos sociais. A versão sociológica da teoria
pós-moderna que se desenvolveu geralmente sustentava que os centros de
autoridade tradicionais da sociedade pós-industrial estavam se desintegrando e
dando lugar ao surgimento de uma nova modernidade social - a pós-moderna. Assim,
enquanto o pensamento moderno enfatiza ordem, coerência, estabilidade, controle,
autonomia e universalidade, o pensamento pós moderno enfatiza fragmentação,
diversidade, descontinuidade, contingência, pragmatismo, multiplicidade e interconexões.
A pós-modernidade
proporcionou um ambiente cultural e social no qual se passou a discutir a
loucura por meio de uma variedade de discursos, e isso se reflete na figura do quadro branco da sala de aula em que estão as palavras escolhidas pelos alunos para se referir à história da loucura.