22 de setembro de 2024

ETARISMO E ATENÇÃO À SAÚDE

 

No seminário sobre etarismo e atenção à saúde, apresentado pela turma 117 do curso de Medicina da UFPB, o grupo composto por Gabriele, Maria Luisa, Luisa, Aoliabe e Maria Clara, abordou questões essenciais sobre a discriminação e os desafios enfrentados pelos idosos no acesso e no cuidado com a saúde.

Exposição 
Luisa iniciou a apresentação utilizando um recorte do filme "Up! Altas Aventuras", uma animação que conta a história de um idoso em um momento de transição de vida após a perda da esposa. A cena escolhida ilustrou o impacto emocional dessas mudanças, refletindo as dificuldades que muitos idosos enfrentam ao se depararem com novas realidades. 
Em seguida, Gabrielle deu continuidade ao tema discutindo a discriminação institucional, interpessoal e autoimposta, destacando que muitas vezes os idosos têm sua autonomia prejudicada, inclusive em consultas médicas, quando outras pessoas falam por eles, mesmo quando poderiam exercer seus direitos. Gabrielle mencionou o Relatório Global sobre Etarismo, que revela que 50% dos idosos sofrem atitudes discriminatórias que afetam sua saúde, e também discutiu a presença de idosos no mercado de trabalho, exemplificando com o caso da modelo de 73 anos chamada Rosa Saito. Ela pontuou que a discriminação contra idosos em todas as esferas é uma violação aos direitos humanos.

Maria Heloísa seguiu com uma exposição sobre os maus-tratos sofridos pelos idosos, abordando diversos tipos de violência, como abuso patrimonial e financeiro, frequentemente cometidos por familiares. Ela citou o Estatuto do Idoso e ressaltou a falta de atenção às necessidades dessa população, inclusive quanto à sua sexualidade. Além disso, mencionou o "Junho Violeta", movimento que alerta para os diferentes tipos de violência praticadas contra pessoas idosas, exemplificando com um caso recente de um idoso que morreu após ser violentamente agredido. Maria Heloísa reforçou a necessidade de suspeição nos atendimentos de saúde, alertando que negligência e discriminação podem culminar em violência psicológica e física.
Luísa abordou a exclusão digital dos idosos, mencionando um estudo que analisou os efeitos do uso do computador na cognição, estado emocional, qualidade de vida e habilidades manuais dos idosos. Ela destacou que as dificuldades enfrentadas por essa população são, em grande parte, de origem física e orgânica, com consequências significativas para a qualidade de vida. Além disso, mencionou a Fundação de Apoio ao Deficiente (FUNAD) e os desafios que os idosos enfrentam no acesso a serviços dessa instituição, principalmente relacionados ao uso de tecnologia para encaminhamentos online.

Aoliabe tratou da formação médica voltada para o cuidado com os idosos, criticando a deficiência na capacitação dos profissionais para lidar com essa população. Ela destacou que o rodízio em geriatria no Hospital Universitário Lauro Wanderley é opcional para os alunos do internato, o que pode impactar sua formação. Aoliabe compartilhou o caso de uma amiga que acompanhou a avó em uma consulta na Unidade de Saúde da Família, onde foi prescrito um ansiolítico inadequado para sua idade. Ela reforçou a importância da presença de geriatras nas equipes de atenção primária.
Por fim, Maria Clara abordou a saúde mental dos idosos, discutindo os fatores biológicos, psicológicos e sociais que influenciam o bem-estar dessa população. Ao encerrar o seminário, foi realizada uma dinâmica interativa com um quiz no aplicativo Kahoot, envolvendo todos os presentes na revisão sobre os conteúdos apresentados.
Também participei do Quiz com o nome de “Dona Anésia”, uma personagem criada pelo cartunista Will Leite. Ela é uma senhora rabugenta e franca, conhecida por suas críticas ácidas e certeiras. Os participantes do seminário não perceberam esse nome peculiar, possivelmente porque minha pontuação no teste ficou em apenas 3.999 pontos, não alcançando o pódio!...


Discussão
A discussão do seminário sobre etarismo na saúde começou com Sadrak relembrando o livro "O Demônio do Meio-Dia", que aborda a melancolia de uma idosa, e compartilhou uma experiência pessoal relacionada à sua avó, que sofria superproteção familiar. Rebeca complementou com a questão da geriatria, mencionada por Aoliabe, destacando a prescrição inadequada de medicamentos para idosos, como o uso automático de Memantina para déficits cognitivos. Ela também lembrou de dois livros de Ana Cláudia Quintana, que abordam o processo de envelhecimento e a importância de um acompanhamento geriátrico a partir dos 50 anos, ressaltando a melancolia no contexto da morte. Rebeca mencionou o conceito de testamento vital, em que a família, muitas vezes, toma conta da consulta, uma questão mencionada por Maria Heloísa. Felizardo levantou a questão do etarismo autoimposto, associando-o ao filme "O Pior Vizinho do Mundo", exemplificando como os idosos podem internalizar preconceitos. Um exemplo trazido foi o de um vídeo sobre uma estudante de 40 a 50 anos que apareceu em A repercussão do vídeo em que estudantes jovens do curso de Biomedicina de uma universidade particular de Bauru-SP zombaram de uma colega de 40 anos traz à tona questões importantes relacionadas ao etarismo, à cultura de bullying e ao ambiente acadêmico. Rebeca ainda falou sobre a corrida durante a velhice, relacionando com o médico e escritor brasileiro de 81 anos, Dráuzio Varela, que tem participado de várias corridas e eventos esportivos, reforçando seu compromisso com um estilo de vida ativo, enquanto Aoliabe lembrou que há alunos de 50 a 55 anos nas turmas de graduação em medicina da UFPB.
Felipe destacou a contradição entre o aumento da expectativa de vida e o aumento do preconceito contra idosos. Samuel compartilhou uma lembrança de sua avó, de 87 anos, que, após receber um elogio sobre sua beleza, rechaçou-o dizendo que "velha não é bonita", exemplificando o etarismo autoimposto. Luísa, também expositora do seminário, mencionou atrizes como Cláudia Raia, que teve uma gravidez após os 50 anos, e Mônica Martelli, que viveu momentos importantes fora do "tempo socialmente esperado". Rômulo elogiou o grupo pela apresentação e falou sobre sua convivência com a avó, que tem vergonha de se expressar nas consultas e resiste à inclusão digital. Letícia Meira reforçou a relevância do tema, lembrando como os idosos são frequentemente negligenciados e infantilizados, mencionando uma youtuber chamada Sônia Maite que aborda essas questões.
Karolina trouxe à tona a negligência em relação à dosagem de medicamentos para idosos, comparando com a atenção dada às crianças. Maria Eduarda compartilhou que as avós viúvas tendem a se autolimitar, como percebeu com sua própria avó, menos preocupada com sua qualidade de vida após a viuvez. Letícia Fonseca apontou a fragilidade dos idosos e como, muitas vezes, os próprios filhos limitam suas atividades, resultando em quadros de depressão, especialmente durante a pandemia. Emanuel falou sobre o mito envolvendo a sexualidade na velhice e os golpes contra o patrimônio sofridos por idosos. Hugo discutiu o descompasso entre a educação médica e o aumento da expectativa de vida, enquanto Ramon mencionou "A Sociedade do Cansaço", do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, argumentando que, por deixarem de produzir, os idosos são marginalizados.
Flávia relembrou que Rebeca havia comentado que sua avó foi à geriatria aos 50 anos, mas que ela não conseguia imaginar sua própria mãe fazendo isso aos 40. Mabel ressaltou que o respeito aos idosos é uma questão cultural, e Marcos observou que os jovens com sinais de calvície geralmente começam tratamentos precoces, por motivação estética e como um tipo de repulsa a aspectos relacionados ao envelhecimento. Ruth falou sobre uma blogueira de 73 anos que desafia estereótipos de vestimenta para idosos, Rose Saito, enquanto Guilherme finalizou mencionando o isolamento social e a marginalização dos idosos dentro de suas próprias famílias.

Feedback da Moderadora
A análise do seminário sobre etarismo na saúde revela um debate rico e multifacetado, que abrange experiências pessoais, reflexões teóricas e referências culturais, trazendo uma compreensão mais profunda sobre como o etarismo se manifesta e é internalizado na sociedade. Vou pontuar os aspectos mais interessantes e fundamentá-los teoricamente:
1. Superproteção e Infantilização de Idosos
O relato de Shadrach, sobre a superproteção familiar sofrida pela avó, e de Letícia Fonseca, sobre como filhos limitam as atividades dos pais idosos, traz à tona o conceito de infantilização, onde os idosos são tratados como incapazes de tomar decisões ou de viver de maneira independente. Isso se conecta com o que Letícia Meira chamou de negligência, onde a sociedade muitas vezes infantiliza ou ignora as necessidades dos idosos. Segundo Gullette (2004), essa infantilização reduz a autonomia dos idosos e pode contribuir para a depressão e perda de qualidade de vida, o que foi destacado por Felipe ao mencionar o aumento do preconceito contra idosos, apesar da maior expectativa de vida.
2. Prescrição inadequada e atenção médica
Rebeca e Carolina abordaram a questão da prescrição inadequada de medicamentos para idosos, como o uso automático de memantina para déficits cognitivos, e a negligência em relação à dosagem de medicamentos. Esses exemplos refletem um problema importante na geriatria, que é a iatrogenia – danos causados por tratamento médico inadequado, frequentemente relacionado à falta de formação médica sobre o envelhecimento saudável. Segundo Pilotto e Martin (2018), a educação médica precisa evoluir para lidar com a complexidade das condições geriátricas, algo que Hugo também mencionou ao discutir o descompasso entre a educação médica e o envelhecimento da população.
3. Etarismo autoimposto
O conceito de etarismo autoimposto, discutido por Rebeca e exemplificado por Samuel, quando sua avó rejeitou um elogio por acreditar que "velha não é bonita", reflete a internalização do preconceito. De acordo com Lévy (2009), quando os idosos internalizam estereótipos negativos sobre o envelhecimento, isso pode afetar negativamente a sua autoestima e saúde, levando a um ciclo de autoexclusão e retração social. Emmanuel também trouxe a questão do mito da sexualidade na velhice, outro aspecto de como os idosos internalizam limitações sociais impostas, que reforçam sua marginalização.
4. O papel das representações culturais e midiáticas
A menção a atrizes como Claudia Raia e Mônica Martelli, por Luísa, que desafiam os estereótipos de idade ao vivenciarem gravidezes e momentos importantes após os 50 anos, reflete o impacto que as representações culturais têm na percepção sobre o envelhecimento. O exemplo de uma blogueira que desafia estereótipos de vestimenta para idosos, trazido por Ruth, também destaca como figuras públicas podem romper com os estigmas associados à velhice. A gerontologia social enfatiza a importância das representações culturais em moldar percepções sobre o envelhecimento, mostrando que as normas sociais sobre o que é “apropriado” para cada idade são construções que podem ser desafiadas.
5. Isolamento social e marginalização dos idosos
Guilherme e Ramon destacaram o isolamento social e a marginalização dos idosos em suas famílias e na sociedade, temas também discutidos em A Sociedade do Cansaço, de Byung-Chul Han, mencionada por Ramon. Isso está relacionado ao conceito de invisibilidade social dos idosos, amplamente discutido em estudos sobre envelhecimento. Segundo Victor (2012), a exclusão social dos idosos muitas vezes resulta de uma sociedade que valoriza a produtividade e marginaliza aqueles que já não contribuem economicamente, reforçando o etarismo.

Considerações Finais
O seminário explorou de forma abrangente o etarismo em suas várias dimensões, com discussões baseadas em experiências pessoais, literárias e culturais. Teoricamente, os tópicos abordados remetem a conceitos fundamentais da gerontologia e gerontologia crítica, como infantilização, iatrogenia, etarismo autoimposto, invisibilidade social e a importância de representações culturais positivas na construção de novas narrativas sobre o envelhecimento. Essa discussão não só ilumina as desigualdades enfrentadas pelos idosos, mas também desafia as normas sociais e médicas que perpetuam o preconceito etário.


Referências
GULLETTE, M. M. Aged by Culture. Chicago: University of Chicago Press, 2004.

PILOTTO, A.; MARTIN, F. C. Comprehensive Geriatric Assessment. Cambridge: Cambridge University Press, 2018.

LEVY, B. R. Stereotype embodiment: a psychosocial approach to aging. Current Directions in Psychological Science, v. 18, n. 6, p. 332-336, 2009.

VICTOR, C. R. Loneliness in later life. In: Loneliness: Evidence and Interventions. Age UK, 2012.

HAN, B. C. A Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Editora Vozes, 2017.

10 de setembro de 2024

CAPACITISMO NA ATENÇÃO À SAÚDE

 
Durante a apresentação e  discussão do projeto baseado em equipes sobre capacitismo na disciplina de Diversidade Étnica e Cultural na Medicina, os alunos José Natanael, João Vitor, Caio, Carlos e João Vítor Estrela abordaram o tema de forma abrangente. Eles apresentaram a conceituação do capacitismo, e este como problema de saúde pública, além da questão da deficiência oculta. O grupo apresentou também os diferentes modelos de deficiência e os vários tipos de capacitismo: sistêmico, institucional, interpessoal e internalizado. Além disso, os integrantes do grupo trouxeram dados do canal de denúncias Disque 100, destacando as barreiras enfrentadas por pessoas com deficiência, e mencionaram a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF).
Os alunos também destacaram exemplos de atletas das Paralimpíadas em Paris, com ênfase no sucesso dos atletas brasileiros, que até o momento conquistaram 89 medalhas, incluindo cinco de ouro. Mencionaram especificamente o paraibano Petrúcio, atleta paralímpico que treinava na Universidade Federal da Paraíba. 
Para engajar os colegas, eles conduziram um quiz sobre capacitismo e atenção à saúde. Após o quiz, iniciei a discussão e abri espaço para os alunos participarem do debate. Comentei positivamente sobre a inclusão do conceito de diversidade funcional, destacando a visão mais ampla e inclusiva do grupo em relação às questões de deficiência, o que reflete um entendimento mais profundo das múltiplas dimensões da diversidade humana. Por fim, sugeri que, na apresentação dos trabalhos futuros, além das dinâmicas de grupo e debates, os próximos projetos fossem incluídos estudos de caso para enriquecer ainda mais a discussão e contextualizar o problema na prática.
A discussão começou com Ruth abordando o capacitismo estrutural e as barreiras de acessibilidade presentes em diversos contextos, como trabalho, estudo e, especialmente, em instituições de educação e saúde. Felizardo trouxe à tona exemplos de capacitismo observados na própria universidade. Ronielle comentou sobre a rotulação de pessoas ou instituições consideradas capacitistas, mas destacou que, em algumas escolas, alunos com deficiência intelectual acabam sendo nivelados por baixo, pois não conseguem acompanhar o ritmo de ensino. Ele também mencionou que a inclusão de crianças com autismo nas salas de aula, mesmo quando não têm deficiência intelectual, é limitada a um tutor, o que pode ser visto como segregação. Emmanuel acrescentou que a lei exige que crianças com autismo ou deficiência intelectual tenham acompanhantes, mencionando um caso em que sua mãe, professora municipal, precisou exigir a aplicação dessa norma em sua escola.
Felipe destacou a necessidade de tratar as diferenças de forma equitativa, com mais recursos econômicos e profissionais capacitados para atender as crianças com deficiência no sistema escolar. Karolina elogiou o grupo e apontou que a frase "nivelar por baixo" é capacitista, além de comentar que as Paralimpíadas têm menos visibilidade que as Olimpíadas, o que também reflete um tipo de capacitismo. Letícia Araújo reforçou essa observação, destacando a diferença de repercussão entre os dois eventos.
Sadrak complementou mencionando que a expectativa de limitação quando se trata de considerar pessoas com deficiência é comum, porém todos temos deficiências, ainda que nem todas sejam visíveis. Ele citou a falta de design universal como uma barreira generalizada, mencionando como frutas pré-cortadas nos supermercados são um exemplo de acessibilidade, mas com um custo elevado, é inacessível para a maioria das pessoas com deficiência. Ele também comentou sobre a inadequação de slides e materiais para pessoas com deficiência visual, incluindo daltônicos.
Samuel parabenizou o grupo e relembrou um atleta paralímpico chinês sem membros superiores, destacando a inclusão na música com exemplos como o baterista Rick Allen da banda Def Leppard, que continuou na banda após um acidente que resultou em deficiência motora. Ele também mencionou o guitarrista Tony Iommi da banda Black Sabbath, reforçando a importância da inclusão de pessoas com deficiência na música. Ambos sofreram acidentes graves que resultaram em perda de membros, mas superaram esses desafios para continuar suas carreiras musicais. Rick Allen perdeu o braço esquerdo em um acidente de carro em 1984. Ele desenvolveu uma técnica para tocar bateria usando um kit modificado, que lhe permitiu continuar como o baterista da banda. Tony Iommi perdeu a ponta de dois dedos da mão direita em um acidente de trabalho aos 17 anos, pouco antes de se juntar ao Black Sabbath. Ele usou dedais de borracha e afinou sua guitarra de forma mais leve para facilitar o toque. Assim, ambos são exemplos de superação e adaptação, continuando a tocar seus instrumentos de forma inovadora mesmo após enfrentarem limitações físicas.
A discussão também abordou preconceitos linguísticos, incluindo termos usados em esportes paralímpicos, como a "bocha", que seria pronunciada de forma diferente conforme a região do Brasil. Nesse ponto da discussão, surgiu a ideia de outro tipo de discriminação, a que envolve regionalismos e pronúncias diversas, mas surgiu o insight sobre a necessidade de evitar esse tipo de discriminação e qualquer outro, mesmo em brincadeiras. 
Francisco, ao complementar Sadrak, trouxe sua experiência como ex-estudante de Arquitetura, destacando a falta de acessibilidade nas calçadas e no campus da universidade, lembrando que o planejamento urbano muitas vezes ignora as necessidades de pessoas com deficiência. Ele retomou o ponto sobre o custo elevado de frutas pré-cortadas, ressaltando a inacessibilidade econômica para pessoas com deficiência que precisam desses produtos.
Ana Luisa compartilhou sua vivência ao visitar o Instituto dos Cegos de João Pessoa, apontando que mesmo em instituições especializadas há barreiras significativas. Francisco voltou a falar sobre a priorização de espaços para carros em detrimento de pessoas em áreas comerciais, observando que o lucro é mais valorizado que a acessibilidade. Emmanuel trouxe de volta o tema das Paralimpíadas e destacou o subfinanciamento de esportes para pessoas com deficiência, em contraste com o patrocínio elevado de esportes como o futebol para cegos.
Flávia encerrou a discussão mencionando as barreiras estruturais nas escolas, apontando que a deficiência é diversa e que o sistema educacional brasileiro ainda não implementou completamente as obrigações legais para inclusão. Ela compartilhou a experiência de um colega com deficiência em sua escola, reforçando que a inclusão ainda é exceção. Letícia Fonseca citou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que prevê a autonomia do pedagogo e o auxílio de sala para crianças com deficiência, ressaltando a falta de abordagem desse tema nos cursos de pedagogia. Guilherme finalizou comentando que a infraestrutura das instituições reproduz o capacitismo por meio das barreiras presentes tanto no sistema de saúde quanto no de educação.
Houve entrega de 20 participações por escrito dos outros componentes da turma.
O seminário decorrente do projeto baseado em equipes sobre capacitismo na atenção à saúde proporcionou uma oportunidade valiosa para refletirmos sobre as barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficiência no acesso aos serviços de saúde. Ao longo da discussão, ficou evidente que o capacitismo não é apenas uma questão de acessibilidade física, mas também de atitudes e práticas que perpetuam a exclusão e a discriminação.
Compreendemos que o capacitismo se manifesta de diversas formas, desde a falta de infraestrutura adequada até a desvalorização das capacidades das pessoas com deficiência. Esse preconceito estrutural afeta negativamente a saúde e o bem-estar dessas pessoas. Relatos de experiências pessoais destacaram a importância de ouvir e valorizar as vozes das pessoas com deficiência. Os desafios enfrentados por elas, como a falta de acessibilidade e o preconceito, foram discutidos em profundidade.
O combate ao capacitismo na atenção à saúde exige um esforço coletivo e contínuo. É fundamental que todos os envolvidos, desde gestores até profissionais de saúde e a sociedade em geral, se comprometam a promover a igualdade e a dignidade das pessoas com deficiência. Somente assim poderemos construir um sistema de saúde verdadeiramente inclusivo e acessível para todos.

9 de setembro de 2024

REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA SAÚDE EM RODA DE CONVERSA DO PROFSAUDE


A roda de conversa com os mestrandos do ProfSaúde, realizada no primeiro encontro presencial da disciplina Educação na Saúde com a turma 5, proporcionou um momento de reflexão sobre o processo de aprendizagem, alinhado ao objetivo de conhecer as metodologias do programa. Nesse encontro, os mestrandos compartilharam narrativas sobre suas experiências de formação, destacando aspectos que facilitaram ou dificultaram o aprendizado, seguidas por uma exposição dialogada sobre tendências pedagógicas.

Inicialmente, algumas narrativas revelaram percepções sobre professores mais inovadores, embora nem sempre o conteúdo estivesse relacionado diretamente ao aprendizado, com relatos de docentes que misturavam questões pessoais e referências midiáticas. Uma das narrativas chamou atenção para o conceito de "disciplina tamborete", referindo-se a experiências insatisfatórias com a estrutura pedagógica. Na gíria dos alunos, a expressão "disciplina tamborete" se refere a uma matéria ou disciplina que tem poucos créditos, sendo considerada "menor" em termos de carga horária ou importância no currículo acadêmico. Geralmente, esse termo é usado de maneira descontraída ou pejorativa para disciplinas que, embora obrigatórias, são vistas como menos relevantes ou que exigem menos esforço dos estudantes em comparação com outras matérias mais extensas ou complexas. A ideia do "tamborete" remete a algo pequeno e simplório, assim como essas disciplinas são vistas pelos alunos no contexto universitário.

Outra narrativa abordou a frustração com a formação tradicional, em contraste com a capilaridade maior de oportunidades educacionais em cidades como João Pessoa, em comparação a localidades menores como Cajazeiras. Nessa reflexão, foram trazidos exemplos de integração ensino-serviço e o impacto de professores inspiradores na formação dos mestrandos, principalmente ao promoverem dinâmicas problematizadoras e o reconhecimento dos determinantes sociais da saúde.

As narrativas também destacaram a experiência em programas de residência multiprofissional, como um divisor de águas na formação, especialmente ao promover um cuidado compartilhado entre profissionais de diferentes áreas da saúde. A comparação entre o ensino privado e o público foi trazida à tona, com uma mestranda observando a prevalência de um ensino mais tecnicista nas instituições privadas, enquanto as universidades públicas, como a UFPB, estavam aos poucos incorporando mudanças, apesar da resistência de docentes tradicionais.

Outro ponto central nas discussões foi o papel do médico como coordenador do cuidado nas equipes de saúde, gerando debate sobre a hierarquia nas redes de atenção à saúde. Alguns mestrandos defenderam que o médico não precisa ser necessariamente o coordenador, enquanto outros reforçaram a importância de uma coordenação longitudinal do cuidado, especialmente em contextos de atendimento de urgência e internação hospitalar.


Sistematização da Roda de Conversa

As narrativas compartilhadas pelos mestrandos evidenciam uma pluralidade de experiências que refletem tanto a diversidade das trajetórias educacionais quanto a complexidade das interações entre diferentes atores no processo de ensino-aprendizagem. Há uma tensão evidente entre métodos pedagógicos tradicionais e inovações propostas por docentes mais progressistas, o que muitas vezes provoca resistências ou mal-entendidos por parte dos profissionais envolvidos.

Os relatos sugerem que a transição para metodologias mais ativas e integradas ainda enfrenta barreiras, especialmente em instituições e equipes onde o ensino bancário e centrado no professor continua predominante. Contudo, observam-se sinais de mudança, particularmente quando há maior envolvimento dos alunos no processo de problematização e na construção de soluções práticas para os desafios do sistema de saúde.

A roda de conversa também destacou a importância da integração entre ensino e serviço, com ênfase nas práticas de cuidado compartilhado e nas experiências que promovem uma visão mais ampla e humanizada da assistência à saúde. A partir dessas experiências, fica evidente o potencial transformador das residências multiprofissionais, que promovem um aprendizado mais colaborativo e centrado nas necessidades do paciente.

Por fim, a discussão sobre o papel do médico na coordenação do cuidado reflete um desafio contemporâneo nas práticas de saúde: a necessidade de equilibrar as hierarquias profissionais com uma abordagem mais horizontal e integrada, onde todos os membros da equipe contribuem de maneira significativa para o cuidado dos pacientes. As narrativas revelam que, embora ainda haja resistência à mudança, o movimento em direção a práticas mais colaborativas está ganhando força, impulsionado pela demanda por uma atenção à saúde mais inclusiva e equitativa.

Assim, as narrativas dos mestrandos do PROFSAUDE revelam um cenário rico e complexo de aprendizagem, onde diferentes teorias podem ser aplicadas para entender melhor os processos e desafios envolvidos. A transição para metodologias mais ativas e integradas, a importância da integração entre ensino e serviço, e a promoção de práticas colaborativas são elementos que destacam o potencial transformador dessas experiências educacionais.

A construção de narrativas como metodologia de aprendizagem é uma abordagem versátil e eficaz que pode transformar a maneira como os alunos interagem com o conteúdo, tornando a educação uma experiência mais rica e envolvente.

As narrativas de vivências de aprendizagem dos mestrandos do PROFSAUDE na disciplina de Educação na Saúde podem ser analisadas e interpretadas à luz de várias teorias de aprendizagem, como as seguintes: 

1. Teoria Sociocultural de Vygotsky

A teoria sociocultural de Vygotsky enfatiza a importância das interações sociais e culturais no desenvolvimento cognitivo. No texto, a diversidade das trajetórias educacionais e a complexidade das interações entre diferentes atores no processo de ensino-aprendizagem refletem essa perspectiva. A tensão entre métodos pedagógicos tradicionais e inovações propostas por docentes mais progressistas pode ser vista como um conflito entre diferentes zonas de desenvolvimento proximal, onde os alunos e professores estão em diferentes estágios de compreensão e adaptação às novas metodologias1.

2. Aprendizagem Experiencial de Kolb

A teoria da aprendizagem experiencial de Kolb sugere que a aprendizagem é um processo cíclico que envolve a experiência concreta, a observação reflexiva, a conceitualização abstrata e a experimentação ativa. As narrativas dos mestrandos, que destacam a transição para metodologias mais ativas e integradas, exemplificam esse ciclo. A maior participação dos alunos na problematização e na construção de soluções práticas para os desafios do sistema de saúde é um exemplo claro de aprendizagem experiencial.

3. Teoria da Aprendizagem Transformadora de Mezirow

A teoria da aprendizagem transformadora de Mezirow foca na mudança de perspectivas através da reflexão crítica. As experiências compartilhadas pelos mestrandos, especialmente aquelas que promovem uma visão mais ampla e humanizada da assistência à saúde, podem ser vistas como catalisadores para a transformação pessoal e profissional. A integração entre ensino e serviço e as práticas de cuidado compartilhado são elementos que facilitam essa transformação, permitindo que os alunos reavaliem e modifiquem suas crenças e atitudes.

4. Teoria da Aprendizagem Colaborativa

A aprendizagem colaborativa enfatiza o papel do trabalho em grupo e da construção conjunta do conhecimento. As residências multiprofissionais mencionadas no texto promovem um aprendizado mais colaborativo e centrado nas necessidades do paciente, alinhando-se com essa teoria. A discussão sobre o papel do médico na coordenação do cuidado e a necessidade de uma abordagem mais horizontal e integrada refletem os princípios da aprendizagem colaborativa, onde todos os membros da equipe contribuem de maneira significativa para o cuidado dos pacientes.

As narrativas dos mestrandos revelam um panorama rico e multifacetado das experiências de aprendizagem na área da saúde. A diversidade das trajetórias educacionais e a complexidade das interações entre diferentes atores no processo de ensino-aprendizagem refletem a necessidade de abordagens pedagógicas que considerem essas variáveis. Sistematizando em categorias temáticas a roda de conversa e as narrativas dos mestrandos, pode-se levantar as seguintes:

(1)Tensão entre Métodos Tradicionais e Inovadores: A coexistência de métodos pedagógicos tradicionais e inovações propostas por docentes progressistas evidencia a necessidade de um equilíbrio. A resistência e os mal-entendidos são desafios que precisam ser abordados com sensibilidade e abertura ao diálogo.

(2) Transição para Metodologias Ativas: A transição para metodologias mais ativas e integradas enfrenta barreiras, mas também apresenta sinais de mudança positiva. O envolvimento dos alunos na problematização e na construção de soluções práticas é um passo crucial para a transformação do ensino na saúde.

(3) Integração entre Ensino e Serviço: A integração entre ensino e serviço é fundamental para promover uma visão mais ampla e humanizada da assistência à saúde. As práticas de cuidado compartilhado e as experiências colaborativas são essenciais para a formação de profissionais mais preparados e conscientes das necessidades dos pacientes.

(4) Aprendizagem Colaborativa: As residências multiprofissionais destacam o potencial transformador da aprendizagem colaborativa. A discussão sobre o papel do médico na coordenação do cuidado reflete a necessidade de uma abordagem mais horizontal e integrada, onde todos os membros da equipe contribuem de maneira significativa.

(5) Movimento em Direção a Práticas Colaborativas: Apesar das resistências, há um movimento crescente em direção a práticas mais colaborativas e inclusivas. A demanda por uma atenção à saúde mais equitativa e centrada no paciente impulsiona essa mudança, que é essencial para a evolução das práticas de saúde.


Considerações Finais

As narrativas dos mestrandos do PROFSAUDE oferecem insights valiosos sobre os desafios e as oportunidades no campo da educação em saúde. A reflexão crítica sobre essas experiências pode guiar futuras iniciativas pedagógicas, promovendo um ambiente de aprendizagem mais dinâmico, inclusivo e eficaz. A transformação do ensino na saúde depende do compromisso contínuo com a inovação, a colaboração e a humanização das práticas de cuidado.