13 de fevereiro de 2025

DEVOLUTIVA DO SEMINÁRIO SOBRE ESTIGMA E DOENÇA MENTAL

 

Esta é a devolutiva para os alunos do Seminário sobre Estigma e Doença Mental, apresentado em 3 de fevereiro de 2025. O Grupo A, composto por Nathália, Hilary, Natália, Maria Fernanda e Pedro Henrique, abordou a diversidade na saúde mental (Figuras 1 a 4).

O seminário foi estruturado em dez tópicos. Inicialmente, os expositores apresentaram um sumário com os principais pontos a serem discutidos. O primeiro tópico tratou da definição de saúde mental, seguido pela compreensão da interseccionalidade e sua relevância nesse contexto. Em seguida, discutiram a prática clínica, suas características e importância na saúde mental. O quarto tópico diferenciou saúde mental e transtornos mentais, explorando os diversos tipos de transtornos. No quinto tópico, foram analisados os impactos da diversidade na saúde mental, considerando recortes étnicos e culturais. Depois, abordaram a psicofobia, conceituando-a e explicando suas manifestações. O sétimo tópico tratou da luta antimanicomial no contexto do sistema de saúde brasileiro, seguido por uma discussão sobre legislações e políticas públicas no Sistema Único de Saúde (SUS). No nono tópico, os desafios na assistência à saúde mental das minorias foram debatidos, finalizando com estratégias para aprimorar o atendimento de grupos vulneráveis e minorizados. 
Os diapositivos apresentados durante a exposição estão demonstrados nas figuras a seguir:


Parabenizei o grupo pela abordagem, que trouxe informações essenciais sobre o impacto do estigma nas pessoas com transtornos de saúde mental, ressaltando a importância de estratégias para reduzir a discriminação. A exposição foi bem conduzida e apresentou formas sensíveis de tratar o tema. Houve um esforço do grupo para promover maior interação com a turma, incluindo perguntas norteadoras e resgatando conceitos de aulas anteriores, além de explorar estruturas e estratégias de enfrentamento. No entanto, senti falta de exemplos práticos de situações reais no contexto do Serviço de Saúde, que poderiam ilustrar de forma mais concreta os desafios da discriminação e da estigmatização no dia a dia profissional.

Participações Orais em Sala de Aula
As participações orais foram feitas por Hevilly, Davi, Gabriel Salomão, Natália, Maria Eduarda, Ana Luisa, Laura, Carolina, Júlia e José Henrique, cujas intervenções foram respondidas e discutidas de forma apropriada pelos integrantes do grupo responsável pelo seminário.
Hevilly abriu o debate com a primeira pergunta problematizadora, destacando o uso de fitoterápicos que, muitas vezes, não são informados ao médico, o que pode resultar em interações adversas para os pacientes. Davi compartilhou suas experiências em um centro de saúde mental com idosos e refletiu sobre como essa vivência o ajudou a compreender melhor as situações cotidianas enfrentadas por pessoas com transtornos mentais. Ele ressaltou que, embora o diagnóstico e o tratamento farmacológico sejam fundamentais, aspectos como acolhimento, participação em terapias comunitárias, terapia ocupacional e a adoção do método clínico centrado na pessoa são igualmente essenciais para o cuidado integral.
Maria Fernanda, integrante do grupo expositor do seminário, reforçou essa visão ao destacar que esses aspectos não se excluem, mas devem ser integrados, garantindo um atendimento interdisciplinar mais eficaz.
Gabriel Salomão abordou a questão da estereotipagem, destacando como os pacientes com transtornos mentais são frequentemente rotulados como "loucos". Ele sugeriu que a universalização dos conceitos poderia minimizar esse problema, citando, por exemplo, a importância de não tratar a depressão como uma futilidade. Como exemplo, mencionou o depoimento do padre Marcelo Rossi, uma figura pública, que utilizou as mídias sociais para reforçar a existência real da depressão.
Natália refletiu sobre essa questão e destacou que tal visão é fruto da ignorância, reforçada por fatores socioeconômicos desfavoráveis e pelo baixo acesso à educação na sociedade. Hilary, que participou do seminário junto com Natália, ressaltou a importância do diálogo contínuo e destacou o papel fundamental da família, enfatizando que ela também precisa ser informada sobre essas questões.
Ana Luisa compartilhou sua experiência na Unidade de Saúde da Família, onde participou de terapias comunitárias voltadas para mulheres mais velhas que se sentiam sozinhas. Nessas atividades, elas eram acolhidas em rodas de conversa, destacando a ideia de que o tratamento não se resume apenas ao uso de medicamentos, mas envolve diversas intervenções. Ela também mencionou a folha de São João, alertando sobre seu impacto no citocromo hepático e os possíveis riscos de interação com outros fármacos. Além disso, comentou sobre o termo "psicofobia", que desconhecia até aquele seminário, e ressaltou a importância de figuras públicas compartilharem suas experiências com transtornos de saúde mental, ajudando a normalizar o tema e incentivando a busca por superação.
Pedro, integrante do grupo do seminário, abordou as práticas comunitárias e a reforma psiquiátrica, enfatizando o crescimento e a relevância das práticas integrativas e complementares como abordagens terapêuticas em expansão.
Maria Eduarda destacou a continuidade da luta antimanicomial e a necessidade de combater o estigma ainda presente em relação aos transtornos mentais. Ela apontou que expressões como "vai para o CAPS" refletem preconceitos e reforçam barreiras que dificultam o acesso ao cuidado adequado. Além disso, enfatizou a importância da informação para desconstruir esses estigmas.
Ela também ressaltou que a abordagem da saúde mental, atualmente muito centrada na farmacologia, precisa ser repensada, já que os transtornos mentais, assim como outras doenças crônicas, exigem um olhar integral. Muitas vezes, o próprio ambiente familiar pode ser um fator agravante. No feedback do grupo do seminário, Maria Eduarda observou que, em alguns casos, o uso de medicamentos poderia ser evitado, como no consumo excessivo de ansiolíticos, priorizando mudanças no estilo de vida para a promoção da saúde mental.
Natália acrescentou que o uso indiscriminado de ansiolíticos tem sido frequente entre estudantes que se preparam para o ENEM, refletindo a banalização do diagnóstico de ansiedade. Ela também alertou para o hiperdiagnóstico de transtornos como TDAH, depressão e ansiedade, o que pode levar a um excesso de medicalização sem uma análise aprofundada das reais necessidades dos pacientes.
Hilary, por sua vez, mencionou que, em João Pessoa, o hospital psiquiátrico Juliano Moreira ainda preserva as antigas celas onde, no passado, os pacientes eram mantidos confinados. No entanto, com os avanços da reforma psiquiátrica, a instituição passou a oferecer atividades como a arteterapia, promovendo novas abordagens de cuidado e reabilitação.
Laura destacou que o estigma também afeta os profissionais de saúde mental. Enfatizou a importância da terapia comunitária e compartilhou que, como estudante de graduação, às vezes sente insegurança sobre o que dizer, informar ou como agir diante de pacientes com transtornos mentais. No entanto, reconhece que uma de suas funções essenciais é oferecer acolhimento.
Karolina comentou que o TDAH é frequentemente mais prevalente entre estudantes do que sua ausência, ou seja, em um grupo de alunos, há mais pessoas com esse diagnóstico do que sem ele. Além disso, relatou uma experiência na Unidade de Saúde da Família, mencionando que, apesar das melhorias no atendimento, algumas pessoas relatam estar bem apenas para conseguir vender medicamentos controlados, como o Rivotril.
Júlia abordou o contexto histórico e moralizante das Santas Casas, discutindo o papel das unidades da Estratégia Saúde da Família (ESF) na abordagem dos transtornos mentais e sua etiologia. Explicou que, por volta de 1902, os hospitais psiquiátricos começaram a instituir novas diretrizes institucionais, o que teve um impacto significativo na formação da sociedade.
Pedro acrescentou que pessoas homossexuais e pertencentes a grupos racializados também sofreram intensamente com estigmatização. Ele mencionou que muitos foram submetidos à chamada "cura gay", um conceito equivocado que ainda persiste no imaginário social de algumas populações. Ressaltou ainda que determinados grupos vivem em bolhas sociais, onde esse imaginário restrito influencia e molda suas relações.
José Henrique abordou a questão dos estereótipos associados às pessoas com transtornos de saúde mental, destacando que, de certa forma, é impossível escapar deles. A maneira como a sociedade enxerga essas condições muitas vezes é moldada por concepções estereotipadas, que reduzem a complexidade das experiências individuais a rótulos simplificados. Além disso, ele mencionou a secularização como um fator relevante nesse contexto, possivelmente no sentido de como a compreensão da saúde mental se deslocou de interpretações religiosas ou espirituais para uma abordagem mais científica e, em alguns casos, excessivamente biomédica.
Hevilly complementou essa discussão citando o livro 21 Lições para o Século 21, de Yuval Noah Harari, no qual há uma reflexão sobre como os indivíduos são constantemente desconstruídos em suas identidades e crenças, muitas vezes sem que percebam. Isso se conecta à ideia de uma sociedade medicalizada, onde a medicalização da vida cotidiana pode levar à falta de questionamento sobre os fatores sociais e econômicos que influenciam a saúde mental. O perigo da medicalização excessiva reside no fato de que, ao focar exclusivamente nos tratamentos farmacológicos, muitas vezes se negligencia a análise das condições de vida das pessoas e dos sinais que indicam sofrimento psíquico relacionado a questões estruturais, como desigualdade, precarização do trabalho e isolamento social.
Um exemplo dessa crítica vem do pensador Mark Fisher, que refletiu profundamente sobre os impactos da medicalização e da alienação na sociedade contemporânea. Em suas obras, como “Realismo Capitalista”, ele analisou como a cultura neoliberal contribui para a intensificação do sofrimento psíquico, ao transformar angústias existenciais e sociais em questões individuais a serem tratadas com medicação, em vez de abordadas como sintomas de um problema sistêmico. Fisher, que sofria de depressão, acabou tirando a própria vida, o que, de certa forma, evidencia a urgência de discutir a relação entre sociedade, sofrimento psíquico e os limites da medicalização como resposta única a esses desafios.

Participações Escritas em Sala de Aula
Pamela destacou que alguns grupos sociais enfrentam maior dificuldade de acesso à informação, o que pode dificultar a identificação ou até mesmo a consideração da possibilidade de um transtorno mental. Esse cenário impõe ao médico uma postura mais empática e comprometida, exigindo que ele leve em conta todo o histórico do paciente e os impactos da estigmatização resultante do acesso limitado à informação. Para isso, é fundamental adotar uma comunicação sensível e inclusiva.
Essa realidade também influencia a abordagem terapêutica, que deve ser adaptada para garantir que o paciente tenha condições de seguir o tratamento e esteja aberto às práticas de cura tradicionais. Dessa forma, evita-se a desvalorização das concepções culturais que atribuem importância a esses métodos. O médico, por exemplo, poderia estudar os principais medicamentos utilizados por grupos indígenas e compreender suas interações no organismo, conciliando tratamentos baseados em evidências científicas com o uso de fitoterápicos.
Além disso, Pamela mencionou ter ouvido a expressão "todo mundo é louco", uma frase problemática por vários motivos. Ela não apenas induz à banalização dos transtornos mentais, reduzindo a atenção e preocupação com aqueles que realmente necessitam de cuidado, mas também reforça o uso pejorativo do termo "louco", alimentando o preconceito em relação às doenças psiquiátricas. Esse tipo de discurso pode dificultar a adesão às consultas e ao tratamento por parte de quem precisa de apoio. Diante de falas assim, é essencial intervir, explicando de forma didática o que é saúde mental e os danos causados pela disseminação de ideias preconceituosas, mesmo quando expressas de maneira sutil.
Arthur Felipe destacou que um dos aspectos mais marcantes do seminário foi a discussão sobre a luta antimanicomial. Um livro que ilustra bem essa realidade no Brasil é Holocausto Brasileiro, que relata a história do manicômio de Barbacena, um dos maiores do país. A obra evidencia o tratamento desumano ao qual os internos foram submetidos e aborda aspectos da reforma psiquiátrica no Brasil. No entanto, como estudamos nas disciplinas CRAS e Diversidade, ainda persistem desafios, como o subfinanciamento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e a resistência de setores que defendem a internação compulsória.
Quanto à segunda questão, certos grupos podem ter seus sintomas subestimados ou supervalorizados devido a preconceitos. Um exemplo disso é o diagnóstico de depressão em homens, que pode ser menos frequente devido ao estereótipo de que devem demonstrar força emocional, o que dificulta o reconhecimento e o tratamento adequado da doença.
João Gabriel Moraes ressaltou que os estereótipos culturais influenciam o diagnóstico e o tratamento de transtornos mentais, evidenciando a importância da sensibilidade cultural na prática médica e na saúde mental. Para evitar erros diagnósticos e garantir um atendimento mais inclusivo e eficaz, os profissionais de saúde devem estar atentos a esses vieses. Além disso, abordar a saúde mental no contexto de diferentes comunidades contribui para a redução do estigma associado aos transtornos mentais.
Ana Clara comentou sobre a primeira pergunta do grupo, relacionando-a à disciplina de Medicina Baseada em Evidências, que está cursando com sua turma. Ela sempre se questionou sobre como integrar as práticas tradicionais à prática médica, especialmente quando há pouca ou nenhuma evidência científica sobre sua eficácia, seja na fitoterapia ou em outras práticas integrativas.
Esse questionamento a levou à terceira pergunta do grupo: como aprimorar o sistema de ensino para que os futuros médicos consigam equilibrar o paradigma baseado em evidências com as práticas tradicionais? Para ela, o caminho passa pelo investimento em pesquisa e pela superação dos estigmas que envolvem essas abordagens. No entanto, ela se pergunta até que ponto um modelo de ensino tão centrado na alopatia conseguirá abranger essa integração — e, mais importante, como isso poderia ser feito?
Rodrigo Lima, ao responder à questão “Como o ensino médico pode ser aprimorado para que futuros médicos atendam à diversidade cultural de forma mais humanizada e eficaz na saúde mental?”, afirmou que a estrutura curricular do curso já oferece uma base suficiente. No entanto, para garantir uma formação mais sensível e eficiente, é necessário ampliar a abordagem dentro das disciplinas existentes, incorporando a diversidade como um aspecto fundamental do aprendizado, e não como um elemento separado.
Ele destacou que ainda há um forte estigma em relação à saúde mental, especialmente quando se trata de grupos culturalmente minorizados. Conforme apontado na apresentação do seminário, persiste a visão equivocada de que questões de saúde mental são sinônimo de loucura. Esse preconceito se intensifica quando aplicado a grupos como idosos ou a população LGBTQIAPN+, cujas formas de viver são frequentemente associadas a patologizações indevidas.
Dessa forma, Rodrigo defende que melhorar e diversificar o atendimento médico não significa apenas reconhecer a existência de diferentes grupos, mas sim desenvolver a capacidade de adaptar o cuidado às especificidades de cada paciente. Para isso, ele sugere que os estudantes participem de oficinas com diferentes populações e se envolvam em projetos que os coloquem em contato direto com a realidade desses grupos, permitindo uma compreensão mais profunda de suas questões de saúde mental.
Rafael Luiz destacou que a apresentação abordou de maneira abrangente a estigmatização sofrida por grupos minoritários na sociedade, explorando a relação entre esse preconceito e o desenvolvimento de transtornos psicológicos, especialmente depressão e ansiedade. Além disso, o grupo trouxe uma questão essencial: qual deve ser o papel do Estado diante dessa realidade? A resposta apontada foi a necessidade de uma atuação ampla do Ministério da Saúde nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), com atenção especial às populações indígenas, quilombolas e marginalizadas.
João Gabriel Toledo ressaltou que, devido a um histórico de discriminação – como no caso de indígenas, pessoas negras, transexuais e homossexuais –, esses grupos enfrentam uma pressão social significativa, o que impacta diretamente sua saúde mental. Como exemplo emblemático dessa perseguição, mencionou o caso do inventor do computador, Alan Turing, que foi submetido à castração química pelo governo britânico por sua orientação sexual.
Gabriel Moreira, por sua vez, trouxe uma reflexão crítica sobre a expansão da Classificação Internacional de Doenças (CID), especialmente no que tange à categorização das doenças mentais. Ele apontou como essa classificação pode, em alguns casos, reforçar a lógica manicomial, apesar das legislações antimanicomiais vigentes. A rotulação excessiva pode estigmatizar pacientes que poderiam ser tratados de forma menos patologizante. Dessa forma, destacou a importância de que o diagnóstico seja uma ferramenta de compreensão e não uma sentença definitiva. 
Assim, os alunos enfatizaram a necessidade de que os profissionais de saúde adotem uma abordagem crítica e interdisciplinar, pautada na sensibilidade cultural. Isso implica reconhecer e respeitar as diferentes formas de percepção das doenças mentais entre diversos grupos, como indígenas, pessoas LGBTQIAPN+, idosos, entre outros, cada qual com sua própria visão sobre saúde e sofrimento psíquico.
Lucas Freire relatou que, no período passado, durante um dia na Unidade de Saúde da Família, uma paciente transexual chegou desesperada, exigindo acesso a hormônios femininos. No entanto, o medicamento não lhe foi fornecido. Enquanto isso, alguns médicos reagiram com deboche, taxando-a de louca, enquanto ela chorava e gritava. O episódio o marcou profundamente, pois ficou evidente que sua angústia ia além da busca pelo hormônio; tratava-se de um sofrimento socioemocional agravado pelo estigma e pela falta de acolhimento no ambiente de saúde.
Vanessa Ingrid, por sua vez, destacou a importância dos espaços de atendimento voltados à população LGBTQIAPN+, que oferecem um ambiente seguro e livre de preconceitos. No entanto, apontou uma limitação significativa: o receio de algumas pessoas em frequentar esses locais por medo da exposição e do julgamento alheio. Essa barreira pode ser ainda mais desafiadora para aqueles que ainda não assumiram sua orientação sexual, tornando-se um obstáculo ao acesso ao acolhimento adequado.
Gabriel Costa destacou que a saúde mental continua sendo amplamente estigmatizada, afetando não apenas os indivíduos que necessitam de cuidados, mas também suas famílias e ambientes de trabalho. Esse estigma representa um obstáculo significativo à recuperação e reabilitação. Além disso, a exclusão social e a desumanização enfrentadas pelos pacientes tornam-se questões fundamentais a serem abordadas no atendimento prestado pelos profissionais de saúde. A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) oferece serviços essenciais do SUS para pessoas em situação de crise, mas muitos profissionais ainda não estão devidamente preparados para lidar com essas demandas de forma adequada.
Adria Simões ressaltou que os estereótipos culturais podem resultar em diagnósticos equivocados e tratamentos ineficazes na saúde mental. A conscientização dos profissionais é essencial para garantir um cuidado mais justo e eficiente. Segundo ela, esses estereótipos não apenas dificultam o diagnóstico, mas também contribuem para subdiagnósticos, uma vez que, em algumas culturas, transtornos mentais podem ser interpretados como manifestações místicas ou sinais de fraqueza. A inclusão de disciplinas como a nossa em outros centros acadêmicos, aliada ao contato com diferentes contextos sociais, poderia preparar melhor os futuros profissionais para um atendimento mais empático e eficaz.
Com base nas discussões do seminário, Adria também reforçou a importância da saúde mental para o bem-estar e a qualidade de vida, destacando a depressão e a ansiedade como dois dos transtornos mais prevalentes e incapacitantes. O acesso a um sistema de saúde inclusivo e dinâmico é fundamental para garantir diagnóstico precoce, tratamento adequado e suporte contínuo. Estratégias como atendimento multidisciplinar, acolhimento humanizado e políticas eficazes são essenciais para assegurar que todas as pessoas recebam o cuidado necessário, promovendo uma abordagem integral e acessível à saúde mental.
Lívia Dantas respondeu à terceira pergunta levantada pelo grupo: como aprimorar o ensino médico para que futuros médicos atendam à diversidade cultural de forma mais humanizada e eficaz na saúde mental? Um fator essencial para isso é o contato precoce dos estudantes com comunidades diversas. Na UFPB, essa disciplina faz parte da grade curricular, mas em muitas universidades ainda não está incluída. Esse contato desde os primeiros períodos contribui para o aprendizado sobre diferentes contextos culturais e sociais. Nas visitas às unidades de saúde, por exemplo, nos deparamos com jovens e idosos que enfrentam transtornos mentais sem acesso adequado a suporte psicológico. Isso nos permite compreender tanto as particularidades desses pacientes quanto a escassez de recursos nesses serviços, transmitindo uma percepção de descaso e negligência no atendimento à saúde mental.
Além disso, é fundamental que, durante as aulas, sejam discutidos casos clínicos que contemplem diversos grupos, com foco no atendimento em saúde mental. Isso prepara os estudantes para consultas individuais centradas no paciente, baseadas na escuta ativa, livres de estereótipos e capazes de estabelecer vínculos de confiança na relação terapêutica. Rafael Carvalho destacou que a apresentação o fez refletir sobre como os estereótipos contribuem para a estigmatização e marginalização, dificultando o acesso ao tratamento. Esse estigma pode levar a diagnósticos imprecisos e tratamentos inadequados, resultando na desistência ou na não procura por ajuda.
Por isso, a Política Nacional de Saúde Mental é tão essencial. Ela estabelece que é dever do Estado brasileiro garantir condições dignas de cuidado para toda a população, assegurando esses direitos por meio da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Essa rede, composta por UBS, CAPS e RAPS, pode proporcionar um suporte contínuo ao longo do tratamento, com o auxílio de profissionais qualificados, contribuindo para a proteção dos pacientes contra os estigmas e garantindo um cuidado integral.
Antônio Neto destacou que grande parte do conteúdo apresentado durante o seminário está relacionada à banalização de conceitos e ao uso equivocado da desinformação atribuída a indivíduos LGBTQIAPN+. Nesse contexto, ele trouxe uma contribuição teórica relevante ao tema: o conceito de carnavalização, desenvolvido pelo sociólogo Mikhail Bakhtin. Segundo essa teoria, ocorre um processo de apropriação de formas, imagens e linguagens que, ao serem associadas ao riso, acabam por exagerar e distorcer determinadas pautas. Ele exemplificou essa ideia mencionando como expressões jocosas, como chamar alguém de "louco" de maneira pejorativa ou ironizar instituições como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) ao associá-los exclusivamente a "lugares de doidos", contribuem para a carnavalização. Esse fenômeno, segundo ele, pode minimizar a seriedade de questões fundamentais, como a saúde mental, transformando-as em meras caricaturas.
João Pedro Farias, por sua vez, ressaltou a profunda influência da diversidade cultural na percepção, no diagnóstico e no tratamento da saúde mental. Ele enfatizou que essa diversidade impõe desafios significativos à medicina, tornando essencial a integração entre práticas tradicionais e abordagens científicas para garantir um cuidado mais inclusivo. Segundo ele, é fundamental que as práticas culturais sejam respeitadas e que haja um diálogo contínuo com a medicina moderna, desde que essas práticas sejam seguras e eficazes. Além disso, ele destacou a necessidade de superar estereótipos culturais que podem distorcer diagnósticos e tratamentos. Para isso, é imprescindível capacitar os profissionais de saúde a reconhecer e evitar preconceitos e estereotipagem, que, no contexto da saúde mental, podem levar à negligência de diversos transtornos ou à patologização indevida de comportamentos que, na realidade, não configuram um quadro patológico.
Bianca Catarina destacou que o seminário abordou a saúde mental e suas múltiplas implicações, enfatizando a relevância dos temas discutidos. Ela ressaltou que o grupo trouxe uma abordagem voltada para minorias sociais, como mulheres, população LGBTQIA+, pessoas neurodivergentes (PN+) e pessoas com deficiência. Segundo ela, a saúde mental desses grupos ainda é pouco debatida, pois a sociedade tende a tratar a saúde de forma generalizada, sem considerar as particularidades históricas e estruturais que influenciam cada grupo.
Outro ponto que chamou sua atenção foi a seguinte questão: Como o ensino médico pode ser aprimorado para contemplar a diversidade cultural de forma mais humana e eficaz? Para Bianca, a formação médica desempenha um papel essencial nesse processo. Ela acredita que experiências práticas em ambientes diversos deveriam ser intensificadas, pois, como estudante, reconhece a importância dessas vivências para o aprendizado.
Beatriz Borba, por sua vez, trouxe uma perspectiva internacional para a discussão, abordando aspectos culturais e multiculturais do ensino médico. Ela mencionou que recebe intercambistas em sua casa, provenientes de países como Turquia e Egito, e, ao refletir sobre a questão do aprimoramento do ensino médico, destacou a importância da inserção precoce dos estudantes em unidades de saúde da família e disciplinas voltadas à saúde coletiva, como o CRAS.
Kaio Henrique salientou que é impossível dissociar o contexto social do indivíduo ao abordar sua saúde mental. Nesse sentido, as desigualdades sociais enfrentadas por diversos grupos contribuem para o surgimento ou agravamento de transtornos psicossociais, em razão do preconceito e da discriminação. Além disso, é fundamental reconhecer o estigma que recai sobre aqueles que buscam ajuda psiquiátrica. Ele destacou ainda a importância da rede psicossocial como alternativa ao modelo manicomial, uma vez que sua atuação tende a reduzir a marginalização e a segregação.