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REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA SAÚDE EM RODA DE CONVERSA DO PROFSAUDE
A roda de conversa com os mestrandos do ProfSaúde, realizada no primeiro encontro presencial da disciplina Educação na Saúde com a turma 5, proporcionou um momento de reflexão sobre o processo de aprendizagem, alinhado ao objetivo de conhecer as metodologias do programa. Nesse encontro, os mestrandos compartilharam narrativas sobre suas experiências de formação, destacando aspectos que facilitaram ou dificultaram o aprendizado, seguidas por uma exposição dialogada sobre tendências pedagógicas.
Inicialmente, algumas narrativas revelaram percepções sobre professores mais inovadores, embora nem sempre o conteúdo estivesse relacionado diretamente ao aprendizado, com relatos de docentes que misturavam questões pessoais e referências midiáticas. Uma das narrativas chamou atenção para o conceito de "disciplina tamborete", referindo-se a experiências insatisfatórias com a estrutura pedagógica. Na gíria dos alunos, a expressão "disciplina tamborete" se refere a uma matéria ou disciplina que tem poucos créditos, sendo considerada "menor" em termos de carga horária ou importância no currículo acadêmico. Geralmente, esse termo é usado de maneira descontraída ou pejorativa para disciplinas que, embora obrigatórias, são vistas como menos relevantes ou que exigem menos esforço dos estudantes em comparação com outras matérias mais extensas ou complexas. A ideia do "tamborete" remete a algo pequeno e simplório, assim como essas disciplinas são vistas pelos alunos no contexto universitário.
Outra narrativa abordou a frustração com a formação tradicional, em contraste com a capilaridade maior de oportunidades educacionais em cidades como João Pessoa, em comparação a localidades menores como Cajazeiras. Nessa reflexão, foram trazidos exemplos de integração ensino-serviço e o impacto de professores inspiradores na formação dos mestrandos, principalmente ao promoverem dinâmicas problematizadoras e o reconhecimento dos determinantes sociais da saúde.
As narrativas também destacaram a experiência em programas de residência multiprofissional, como um divisor de águas na formação, especialmente ao promover um cuidado compartilhado entre profissionais de diferentes áreas da saúde. A comparação entre o ensino privado e o público foi trazida à tona, com uma mestranda observando a prevalência de um ensino mais tecnicista nas instituições privadas, enquanto as universidades públicas, como a UFPB, estavam aos poucos incorporando mudanças, apesar da resistência de docentes tradicionais.
Outro ponto central nas discussões foi o papel do médico como coordenador do cuidado nas equipes de saúde, gerando debate sobre a hierarquia nas redes de atenção à saúde. Alguns mestrandos defenderam que o médico não precisa ser necessariamente o coordenador, enquanto outros reforçaram a importância de uma coordenação longitudinal do cuidado, especialmente em contextos de atendimento de urgência e internação hospitalar.
Sistematização da Roda de Conversa
As narrativas compartilhadas pelos mestrandos evidenciam uma pluralidade de experiências que refletem tanto a diversidade das trajetórias educacionais quanto a complexidade das interações entre diferentes atores no processo de ensino-aprendizagem. Há uma tensão evidente entre métodos pedagógicos tradicionais e inovações propostas por docentes mais progressistas, o que muitas vezes provoca resistências ou mal-entendidos por parte dos profissionais envolvidos.
Os relatos sugerem que a transição para metodologias mais ativas e integradas ainda enfrenta barreiras, especialmente em instituições e equipes onde o ensino bancário e centrado no professor continua predominante. Contudo, observam-se sinais de mudança, particularmente quando há maior envolvimento dos alunos no processo de problematização e na construção de soluções práticas para os desafios do sistema de saúde.
A roda de conversa também destacou a importância da integração entre ensino e serviço, com ênfase nas práticas de cuidado compartilhado e nas experiências que promovem uma visão mais ampla e humanizada da assistência à saúde. A partir dessas experiências, fica evidente o potencial transformador das residências multiprofissionais, que promovem um aprendizado mais colaborativo e centrado nas necessidades do paciente.
Por fim, a discussão sobre o papel do médico na coordenação do cuidado reflete um desafio contemporâneo nas práticas de saúde: a necessidade de equilibrar as hierarquias profissionais com uma abordagem mais horizontal e integrada, onde todos os membros da equipe contribuem de maneira significativa para o cuidado dos pacientes. As narrativas revelam que, embora ainda haja resistência à mudança, o movimento em direção a práticas mais colaborativas está ganhando força, impulsionado pela demanda por uma atenção à saúde mais inclusiva e equitativa.
Assim, as narrativas dos mestrandos do PROFSAUDE revelam um cenário rico e complexo de aprendizagem, onde diferentes teorias podem ser aplicadas para entender melhor os processos e desafios envolvidos. A transição para metodologias mais ativas e integradas, a importância da integração entre ensino e serviço, e a promoção de práticas colaborativas são elementos que destacam o potencial transformador dessas experiências educacionais.
A construção de narrativas como metodologia de aprendizagem é uma abordagem versátil e eficaz que pode transformar a maneira como os alunos interagem com o conteúdo, tornando a educação uma experiência mais rica e envolvente.
As narrativas de vivências de aprendizagem dos mestrandos do PROFSAUDE na disciplina de Educação na Saúde podem ser analisadas e interpretadas à luz de várias teorias de aprendizagem, como as seguintes:
1. Teoria Sociocultural de Vygotsky
A teoria sociocultural de Vygotsky enfatiza a importância das interações sociais e culturais no desenvolvimento cognitivo. No texto, a diversidade das trajetórias educacionais e a complexidade das interações entre diferentes atores no processo de ensino-aprendizagem refletem essa perspectiva. A tensão entre métodos pedagógicos tradicionais e inovações propostas por docentes mais progressistas pode ser vista como um conflito entre diferentes zonas de desenvolvimento proximal, onde os alunos e professores estão em diferentes estágios de compreensão e adaptação às novas metodologias1.
2. Aprendizagem Experiencial de Kolb
A teoria da aprendizagem experiencial de Kolb sugere que a aprendizagem é um processo cíclico que envolve a experiência concreta, a observação reflexiva, a conceitualização abstrata e a experimentação ativa. As narrativas dos mestrandos, que destacam a transição para metodologias mais ativas e integradas, exemplificam esse ciclo. A maior participação dos alunos na problematização e na construção de soluções práticas para os desafios do sistema de saúde é um exemplo claro de aprendizagem experiencial.
3. Teoria da Aprendizagem Transformadora de Mezirow
A teoria da aprendizagem transformadora de Mezirow foca na mudança de perspectivas através da reflexão crítica. As experiências compartilhadas pelos mestrandos, especialmente aquelas que promovem uma visão mais ampla e humanizada da assistência à saúde, podem ser vistas como catalisadores para a transformação pessoal e profissional. A integração entre ensino e serviço e as práticas de cuidado compartilhado são elementos que facilitam essa transformação, permitindo que os alunos reavaliem e modifiquem suas crenças e atitudes.
4. Teoria da Aprendizagem Colaborativa
A aprendizagem colaborativa enfatiza o papel do trabalho em grupo e da construção conjunta do conhecimento. As residências multiprofissionais mencionadas no texto promovem um aprendizado mais colaborativo e centrado nas necessidades do paciente, alinhando-se com essa teoria. A discussão sobre o papel do médico na coordenação do cuidado e a necessidade de uma abordagem mais horizontal e integrada refletem os princípios da aprendizagem colaborativa, onde todos os membros da equipe contribuem de maneira significativa para o cuidado dos pacientes.
As narrativas dos mestrandos revelam um panorama rico e multifacetado das experiências de aprendizagem na área da saúde. A diversidade das trajetórias educacionais e a complexidade das interações entre diferentes atores no processo de ensino-aprendizagem refletem a necessidade de abordagens pedagógicas que considerem essas variáveis. Sistematizando em categorias temáticas a roda de conversa e as narrativas dos mestrandos, pode-se levantar as seguintes:
(1)Tensão entre Métodos Tradicionais e Inovadores: A coexistência de métodos pedagógicos tradicionais e inovações propostas por docentes progressistas evidencia a necessidade de um equilíbrio. A resistência e os mal-entendidos são desafios que precisam ser abordados com sensibilidade e abertura ao diálogo.
(2) Transição para Metodologias Ativas: A transição para metodologias mais ativas e integradas enfrenta barreiras, mas também apresenta sinais de mudança positiva. O envolvimento dos alunos na problematização e na construção de soluções práticas é um passo crucial para a transformação do ensino na saúde.
(3) Integração entre Ensino e Serviço: A integração entre ensino e serviço é fundamental para promover uma visão mais ampla e humanizada da assistência à saúde. As práticas de cuidado compartilhado e as experiências colaborativas são essenciais para a formação de profissionais mais preparados e conscientes das necessidades dos pacientes.
(4) Aprendizagem Colaborativa: As residências multiprofissionais destacam o potencial transformador da aprendizagem colaborativa. A discussão sobre o papel do médico na coordenação do cuidado reflete a necessidade de uma abordagem mais horizontal e integrada, onde todos os membros da equipe contribuem de maneira significativa.
(5) Movimento em Direção a Práticas Colaborativas: Apesar das resistências, há um movimento crescente em direção a práticas mais colaborativas e inclusivas. A demanda por uma atenção à saúde mais equitativa e centrada no paciente impulsiona essa mudança, que é essencial para a evolução das práticas de saúde.
Considerações
Finais
As narrativas dos mestrandos do PROFSAUDE oferecem insights valiosos sobre os desafios e as oportunidades no campo da educação em saúde. A reflexão crítica sobre essas experiências pode guiar futuras iniciativas pedagógicas, promovendo um ambiente de aprendizagem mais dinâmico, inclusivo e eficaz. A transformação do ensino na saúde depende do compromisso contínuo com a inovação, a colaboração e a humanização das práticas de cuidado.